sábado, junho 30, 2007

Livros soltos...


sexta-feira, junho 29, 2007

País do meio-dia

Atravessado pelo zumbido de um único ruído de carros
e pela música infinda de uma estação de rádio
o vazio do meio-dia

A cidade uma configuração constituída
por rede de aço e estruturas de betão

Atrás das gruas brilha
a água da bacia portuária
indolente em todas as cores de óleo usado

As ruas varridas
pelo sol recozidas

O apressado asfalto da cidade
um caminho de fuga
para a paisagem pedregosa

Uma língua quente rasga o corpo em suor

As cores são pó
não pó
são pedras



Bruno Wheinhals
in Uma Conversa Passa Pelo Papel

quinta-feira, junho 28, 2007

Quando voltei ao mar de antigamente

Quando voltei ao mar de antigamente,
ao entardecer, no calor das avenidas
buscava os antigos companheiros...

Como lobo desvairado farejava
a sombra quente entre as casas. O cheiro
antigo e vazio empurrava-me para a ampla
praia frente ao mar aberto. Aí descobria
mais clara a amargura e a minha sombra
lunar imóvel sobre o cheiro antigo.


Sandro Penna
[No Brando Rumor da Vida]

Rua das lojas a sul


quarta-feira, junho 27, 2007

Solidão…


Traineira…


terça-feira, junho 26, 2007

Que calor!


Descontracção…


Veleiro


Lisboa...


segunda-feira, junho 25, 2007

Atlântico Norte


Natal

Um anjo imaginado,
Um anjo diabético, actual,
Ergueu a mão e disse: — É noite de Natal,
Paz à imaginação!
E todo o ritual
Que antecede o milagre habitual
Perdeu a exaltação.

Em vez de excelsos hinos de confiança
No mistério divino,
E de mirra, e de incenso e ouro
Derramados
No presépio vazio,
Duas perguntas brancas, regeladas
Como a neve que cai,
E breve como o vento
Que entra por uma fresta, quezilento,
Redemoinha e sai:

A volta da lareira
Quantas almas se aquecem
Fraternalmente?
Quantas desejam que o Menino venha
Ouvir humanamente
O lancinante crepitar da lenha?

Miguel Torga

domingo, junho 24, 2007

Praia da Fonte-da-Telha


Girassol


Concha


O Pescador


Foz do Tejo


Torre de Belém


Gerações…


quinta-feira, junho 21, 2007

Prenuncio...


Fachadas antigas…



quarta-feira, junho 20, 2007

A morte absoluta

Morrer.
Morrer de corpo e de alma.
Completamente.

Morrer sem deixar o triste despojo da carne,
A exangue máscara de cera,
Cercada de flores,
Que apodrecerão – felizes! – num dia,
Banhada de lágrimas
Nascidas menos da saudade do que do espanto da morte.

Morrer sem deixar porventura uma alma errante...
A caminho do céu?
Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?

Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra,
A lembrança de uma sombra
Em nenhum coração, em nenhum pensamento,
Em nenhuma epiderme.

Morrer tão completamente
Que um dia ao lerem o teu nome num papel
Perguntem: "Quem foi?..."

Morrer mais completamente ainda,
– Sem deixar sequer esse nome.

[Manuel Bandeira]

terça-feira, junho 19, 2007

CHOVE!

Chove...
Mas isso que importa!,
se estou aqui abrigado nesta porta
a ouvir a chuva que cai do céu
uma melodia de silêncio
que ninguém mais ouve
senão eu?

Chove...

Mas é do destino
de quem ama
ouvir um violino
até na lama.

[José Gomes Ferreira]

domingo, junho 17, 2007

Gaivotas em terra…


Solidão…


sábado, junho 16, 2007

Terrivelmente igual

Esta hora,
é terrivelmente
igual
à que passou
e à que vem!

Terrivelmente
igual!

Esta hora,
é sempre assim,
terrivelmente igual
e não tem fim.

Maleza
21-08-73
Benguela, Angola

Entardecer chuvoso…


Cristo-Rei


sexta-feira, junho 15, 2007

Varanda iluminada…


quinta-feira, junho 14, 2007

As árvores como vento implume

as árvores como
vento implume ou
lápide de um antigo
ser alado

deus ou voz extensa e eu, no
sopé da montanha somos
espantalhos no terreno da alma

[Valter Hugo Mãe]

Quase meia-noite a sul…


O regresso a casa…


Estou escondido na cor amarga do fim da tarde

estou escondido na cor amarga do
fim da tarde. sou castanho e verde no
campo onde um pássaro
caiu. sinto a terra e orgulho
por ter enlouquecido. produzo o corpo
por dentro e sou igual ao que
vejo. suspiro e levanto vento nas
folhas e frio e eco. peço às nuvens
para crescer. passe o sol por cima
dos meus olhos no momento em que o
outono segue à roda do meu tronco e, assim
que me sinta queimado, leve-me o
sol as cores e reste apenas o odor
intenso e o suave jeito dos ninhos ao
relento

[Valter Hugo Mãe]

terça-feira, junho 12, 2007

Texto e comentário

Ergui-me apoiado em tudo
como um ninho de cegonhas

reclino-me segundo Moore
totalmente
sobre nada


Sempre de costas
como um projéctil estático
porque a história é um fio preso
conforme o sangue

entregue em série
à traição do gasto:
o corpo é amiúde
uma encomenda
sem qualquer intimidade.



Boaventura de Sousa
[Madison e Outros Lugares]

Se cada dia cai

Se cada dia cai, dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa.
há que sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar luz caída
com paciência.

Pablo Neruda
[Últimos Poemas]

segunda-feira, junho 11, 2007

Avenida de Lisboa…


um fusil com

um fusil com
balas de insulto pede-me
a pontaria certa para a queda.

a ferida entreaberta que desce o corpo ,
atabalhoadamente ,
sem cores, talvez rubra ,
talvez não , chama-me.

doem-me as mortes , até as verdadeiras.
como se fossem falsas ,
como se me agonizassem sem que eu peça que mintam.

são mentira, as balas de insulto , de fel insulto.
é mentira a arma com que se dispara a emoção , ou as rajadas de emoção.

a inércia dá à costa , e as lágrimas dispõem-se em areal para a receber.
então eu marco um lanche na minha agenda.
um lanche comigo mesmo, ao qual não chegarei a tempo.
tenho fome, tenho fome de um fusil de verdade.


[Nuno Travanca]

sexta-feira, junho 08, 2007

Ruas Desertas

Percorro as ruas desertas
com o pressentimento
que o Sol vai renascer
do seu sepulcro,
entre as nuvens.

Avanço pela doce escuridão.
O silêncio apenas é quebrado
pelos meus passos lentos e regulares
que seguem o som da suave brisa
que me percorre a pele.

Observo, na minha inquietude,
uma criança
que interrompe a minha angústia,
com o seu ar feliz, despreocupado.

Sorrio.
Tudo à minha volta é estranho.
Sinto a carícia do orvalho
que anuncia a manhã.

E como se de um sinal se tratasse,
o sol revela-se,
na sua plenitude
e o meu desalento desaparece.

Volto para o meu mar de sonhos,
pois já não conheço o mundo.

[Joaninhah]

Igreja


Um aeroplano!


Pingos soltos…


quinta-feira, junho 07, 2007

quarta-feira, junho 06, 2007

Agrupamento de Escolas de São Gonçalo - Torres Vedras

Foto: Gentileza de Nelo Coutinho

Abraço as estrelas do teu colo

Abraço as estrelas do teu colo.
Palavras frágeis, eternas faces,
perdidas nos dias sem tempo.

Beijo os rios das tuas mãos.
As manhãs transbordam paixões silenciosas,
letras manchadas pelo desejo.

Descubro os mistérios mergulhados nos teus lábios.
Sombras cegas, poemas nostálgicos
levados pelo vento ausente.

Sonho com tudo o que és.
Palavra nunca pronunciada, música nunca ouvida.
Renascem os sonhos, acalentam-se as saudades.

[Joaninhah]

terça-feira, junho 05, 2007

O verão deixa-me os olhos mais lentos sobre os livros

O verão deixa-me os olhos mais lentos sobre os livros.
As tardes vão-se repetindo no terraço, onde as palavras
são pequenos lugares de memória. Estou divorciada dos
outros pelo tempo destas entrelinhas – longe de casa,
tenho sonhos que não conto a ninguém, viro devagar

a primeira página: em fevereiro, eles ainda faziam amor
à sexta-feira. De manhã, ela torrava pão e espremia
laranjas numa cozinha fria. Havia mais toalhas para lavar
ao domingo, cabelos curtos colados teimosamente ao espelho.
Às vezes, chovia e ambos liam o jornal, dentro do carro,
antes de se despedirem. As vezes, repartiam sofregamente
a infância, postais antigos, o silêncio – nada

aconteceu entretanto. Regresso, pois, à primeira linha,
à verdade que remexe entre as minhas mãos. Talvez os olhos
estivessem apenas desatentos sobre o livro; talvez as histórias
se repitam mesmo, como as tardes passadas no terraço, longe
de casa. Aqui tenho sonhos que não conto a ninguém.

Maria do Rosário Pedreira
[A Casa e o Cheiro dos Livros]

segunda-feira, junho 04, 2007

Escuro

Pergunto-me desde quando
deixou de haver futuro
nas janelas.
Janeiro dói nos olhos
como areia
e tu e eu estamos para sempre
sentados às escuras
no Verão.

[Rui Pires Cabral]

Oliveiras sobreviventes…


domingo, junho 03, 2007

Bem-parecido


Humm… que sede!


Buganvílias


Olhar mortiço…


sábado, junho 02, 2007

O discurso do silêncio

Eu falo sobre o silêncio
o da morte, o do medo
o da traição
o de sentir pulsar a natureza
sem os tumores de aço e de betão

Eu falo sobre o silêncio
o que fica se alguém parte
o de deixar ouvir a música
o das fotografias
o noctumo, o sideral

Eu falo sobre o silêncio
que é o magma original
onde regressam as vozes
movimentos, mutações

Eu choro sobre o silêncio
Quando abro a janela
já a morte atravessa a manhã

José Carlos Teixeira

Amargo estilo novo

Tudo é fácil quando se está brincando com a flor entre os dedos
quando se olham nos olhos as crianças,
quando se visita no leito o amor convalescente.
É bom ser flor, criança, ou ser doente.
Tudo são terras donde brotam esperanças,
pétalas, tranças,
a porta do hospital aberta à nossa frente.

Desde que nasci que todos me enganam,
em casa, na rua, na escola, no emprego, na igreja, no quartel
com fogos de artifício e fatias de pão besuntadas com mel
E o mais grave é que não me enganam com erros nem com falsidades
mas com profundas, autênticas verdades.

E é tudo tão simples quando se rola a flor entre entre os dedos
Os estadistas não sabem,
mas nós, os das flores, para quem os caminhos do sonho não guardam segredos,
sabemos isso e todas as coisas mais que nos livros não cabem

António Gedeão
[Obra Poética]

sexta-feira, junho 01, 2007

LUA


Sobrevivo

Sobrevivo
assim
casa vazia
em vasto mundo.

E tu mais dócil
em teu fiel
e paciente inferno
de enormes estrelas.

Sono de morte
sou voo raso
adagio breve
salmo e nostalgia.

Aqui nascemos
e voltamos
mortos
na memória
doce espiral,
de um tão
escasso fulgor.


Ana Marques Gastão
[Nocturnos]

Acento

Vem dos montes friíssimos da Noruega
onde te sonhei para beberes estrelas
e caminhar a custo entre as cascatas
onde a ternura é um escadote
e o ar um caracol de planetas nas órbitas.

António Maria Lisboa
[Assírio & Alvim1995]