quarta-feira, janeiro 30, 2008

Bria Mcknight

ABBA - FERNANDO

domingo, janeiro 27, 2008

Paisagem da Ilha do mussulo

Foto: Gentileza Jotta

Mussulo, pois claro!


Foto: Gentileza Jotta

Mussulo Angola

Foto: Gentileza Jotta

Ilha do mussulo


Foto: Gentileza Jotta

Praia do mussulo


Foto: Gentileza Jotta

quinta-feira, janeiro 24, 2008

Farol Verde


Já lentamente sofro a tua água, o sopro..

Já lentamente sofro a tua água, o sopro
da memória nas colinas.
Deste-me um corpo, a casa
onde acordar o vento, e a terra, e a paz
desconhecida.
Nesta cave de pele te implorei os dias
o óleo da manhã nas mãos desertas.
A cada instante me devora o gume
embotado da tua
luz sonora.

Afasta do meu rosto a tua vã promessa. Deixa
que seja brando o sono sem lembrança,
um chão de terra nua.
Do teu jardim de chamas me despeço.

ANTÓNIO FRANCO ALEXANDRE
[Visitação, Assírio & Alvim, 1983]

terça-feira, janeiro 22, 2008

Palavras para quê...

imagem retirada da web

Perguntei a um sábio ,

a diferença que havia

entre amor e amizade,

ele me disse essa verdade...

O Amor é mais sensível,

a Amizade mais segura.

O Amor nos dá asas ,

a Amizade o chão.

No Amor há mais carinho,

na Amizade compreensão.

O Amor é plantado

e com carinho cultivado,

a Amizade vem faceira,

e com troca de alegria e tristeza,

torna-se uma grande e querida

companheira.

Mas quando o Amor é sincero

ele vem com um grande amigo,

e quando a Amizade é concreta,

ela é cheia de amor e carinho.

Quando se tem um amigo

ou uma grande paixão,

ambos sentimentos coexistem

dentro do seu coração.


William Shakespeare

domingo, janeiro 20, 2008

A Nobreza Humana

segunda-feira, janeiro 14, 2008

INDECISÃO

Encostado à porta do palheiro, o homem
não se queixa do Inverno. Recebe na cara o
vento norte, e adivinha a chuva que não irá
cair. Ouve os porcos que escorregam
na pocilga; e vê as vacas que se encostam
ao cercado, como se quisessem sair
para o pasto. As árvores já deram o que
tinham a dar; no quintal, os legumes
esperam quem os apanhe. O homem
aproveita o frio da tarde para pensar
o que fazer. Para além dele, só
os pássaros esperam que alguma
coisa mude; ou nem isso, e equilibram-se
na árvore como se a noite estivesse
para chegar. As mãos do homem estão
sujas de lama; e os olhos há muito
deixaram de procurar um alvo fixo,
perdendo-se no cinzento indefinido
da angustia. Dentro dele, porém,
algo procura uma saída; e não deixa
que o vento o curve para terra, como
sucedeu aos arbustos da colina. E
descobre um resto de azul no fundo
do céu. Sabe que o seu caminho se
encontra nessa direcção, que o
tempo irá mudar, e que no dia previsto
não precisará de se encostar à porta
do palheiro, para receber o vento
norte, nem de imitar a indecisão
dos pássaros que o tempo enganou.

[Nuno Júdice]

sozinho

quarta-feira, janeiro 09, 2008

MILAGRE AO ANOITECER

Janelas a fecharem
Tapando os olhos da noite,
Sempre pretos.
Ainda não é hora de dormir
Já do labor não são horas
Um entre cá e lá
Que me entristece.
Oiço um sino, outro mais,
As boas noites do campanário,
No seu adeus diário.
E quedei-me pedindo um milagre:
Um milagre que me fizesse aceitar a noite
Um milagre que me fizesse suportar o dia.

[Manuela Campos Monteiro]
[Mariana do Moinho] (Gentileza da Kuki)

terça-feira, janeiro 08, 2008

O Solitário

Não: uma torre se erguerá do fundo
do coração e eu estarei à borda:
onde não há mais nada, ainda acorda
o indizível, a dor, de novo o mundo.

Ainda uma coisa, só, no imenso mar
das coisas, e uma luz depois do escuro,
um rosto extremo do desejo obscuro
exilado em um nunca - apaziguar,

ainda um rosto de pedra, que só sente
a gravidade interna, de tão denso:
as distâncias que o extinguem lentamente
tornam seu júbilo ainda mais intenso.

[Rainer Rilke]

segunda-feira, janeiro 07, 2008

1ª semana da Inês


AS AVES DO CAOS

Escrevo, à luz do apocalipse, as primeiras
linhas do ocaso. Dou-lhes um sentido obscuro
como a ondulação das frases na vegetação
da estrofe. Empurro para o lado o rebanho
que pasta a erva seca dos versos iniciais; e
passo para a margem de onde avisto o caos,
com as suas esplanadas ainda abertas para
um último café. Sento-me, então, à mesa
de onde os deuses partiram, pouco antes
da minha chegada. O empregado vem ter
comigo. «Não há nada para fazer neste país»,
diz-me. Olho em volta: destroços de astros,
um baldio onde as aves agonizam, caniçais,
o vento seco da morte. «Pode-se ir ao cinema»,
acrescenta. Mas o céu não serve de ecrã,
os anjos não vendem gelados nem pipocas
no intervalo, quando o público sai para
o átrio, num rastro de velhos cometas. «Então
conclui, resta-me esperar pelo fim da noite», e
noto-lhe que não me perguntou o que eu queria;
que preciso de um café, de um copo de água,
que os tempos estão maus para viver com
o sono da eternidade a magoar o espírito, a
puxar as pálpebras para o chão do infinito. « Ah,
se fosse assim em todos os cafés!», suspira,
saindo para sempre da minha vista. Mas
os pássaros começam a debicar as estrelas,
à minha vontade; e enxoto-os para o abismo,
sem pensar que me deixam sem o amparo
das suas asas, sem a música do seu canto.

[Nuno Júdice]

sábado, janeiro 05, 2008

NOITE E DIA

E então a noite caiu, para que não falasse
do cair da noite. A noite caiu tão fria como as
últimas noites que caíram, neste princípio de
Inverno, e ninguém pôs um colchão por baixo
dela para que a noite não se magoasse, ao cair.
A noite limitou-se a cair, e com ela caiu o céu
sem lua, com todas as estrelas do universo a
caírem com ela. Só os olhos não caíram, porque
para verem o céu e as estrelas que o enchiam
tiveram de se levantar. E foi preciso falar
do cair da noite para que os olhos tomassem
a direcção do céu, e descobrissem tudo o que
havia no céu sem lua. «Deixem cair a noite»,
disse alguém. E logo alguém pediu que o
dia se levantasse, como se uma coisa estivesse
ligada a outra. Então, o dia levantou-se da
noite que caiu; e a noite caiu sobre o dia
que se levantava, para que a sua queda fosse
amparada pelo colchão do dia, e as estrelas
tivessem onde pousar, à medida que caíam.

[Nuno Júdice]

terça-feira, janeiro 01, 2008

CATABÁSE INTERIOR

Neste tempo sujo, em que as migrações das aves
desertaram o céu, uma tinta de séculos derrama-se
pelos limites da mesa. Apanho as suas manchas do chão
da estrofe, e deito-as para o limbo das imagens
que me esperam. Ao cair, turvando a negra superfície
em que as nuvens se espelham, acorda um lamento
de gerações adormecidas – mas logo se esvai
no esquecimento do fundo. Desço até lá, procurando
rostos que se perderam; e sinto-me puxado para
o caos das vozes nascidas de uma exasperação
de lábios. Mando-as calar; e o silêncio torna-se
definitivo, como se tivessem deixado de querer
contar as suas vidas, ou as suas histórias se tivessem
afundado na melancolia do sono.

Que fazer das flores caídas na campa do tempo,
espalhando à sua volta o perfume dos
mortos? Arranco-as dos vasos em que secaram,
e junto-as às imagens inúteis, vendo-as criar
raiz num lodo de antigas ressacas. Agora, poderei
lê-las; e descobrir no intervalo das pétalas
as significações obscuras, como se nelas houvessem
novas mensagens a indicar uma saída. Mas
só encontro uma elegia lenta, com a sua música
ressequida; e repito-a devagar, para que
o seu ritmo erga de entre as pedras os corpos
que amei. E o som embebede as paredes, e
escurece-as com o musgo que se alimenta
da solidão que as velhas imagens nos deixaram.

Como sair daqui? Por que escada me libertarei
desta abóbada de sensações amortalhadas? Empurro
a porta, porém; e logo o ar do dia entra em mim.
Limpando-me da noite de todas as memórias.

[Nuno Júdice]

NA MORTE DO MEU QUERIDO AMIGO CONDE DE SOBRAL

Uma vez mais, lá fomos lado a lado,
Mas, desta vez, ficaste e eu voltei…
Qual terá sido de nós o bem fadado?
Bem quisera sabê-lo … Mas não sei!

Ficaste para sempre na terra fria,
Numa tarde triste e outonal.
Estava o sol entrando na agonia,
Quando p’ra sempre entraste no coval.

Aberto em campo raso, em pó, em nada,
No pó que todos somos, afinal!
Ficou teu corpo e não a tua alma alada!

Junto a deus achará o seu beiral.
Num amigo, a saudade abençoada
Se quedará p’ra sempre, sempre igual!

[José Manuel Pyrrait]

SOM QUE PASSA

Eu gostava de ser o som que passa,
Não p’ra espalhar o eco dos canhões,
Nem da terra que cai sobre os caixões,
Ou de gritos de angústia ou de desgraça.
Mas p’ra reter o eco que não cansa,
Como o da água, cantando numa fonte,
Ou o palrar e rir duma criança…

[José Manuel Pyrrait]