domingo, abril 26, 2009

Sim, sei bem

Sim, sei bem
Que nunca serei alguém.
Sei de sobra
Que nunca terei uma obra.
Sei, enfim,
Que nunca saberei de mim.
Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
Este luar, estes ramos,
Esta paz em que estamos,
Deixem-me crer
O que nunca poderei ser.

[Fernando Pessoa]

Passamos pelas coisas sem as ver

Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.

[Eugénio de Andrade]

Hoje apetece-me o silêncio

E depois do 25 de Abril…

Hoje apetece-me o silêncio das casas assombradas com sangue nas janelas...
sangue, sangue que jorra das feridas abertas como bocas escancaradas...
Noite. Pavor. Esquecimento. Silêncio... gritos amordaçados que calam a noite.

[Desconhecido]

sexta-feira, abril 24, 2009

Ainda sabemos cantar

Ainda sabemos cantar,
só a nossa voz é que mudou:
somos agora mais lentos,
mais amargos,
e um novo gesto é igual ao que passou.

Um verso já não é a maravilha,
um corpo já não é a plenitude.

[Eugénio de Andrade]

quinta-feira, abril 23, 2009

Sê paciente; espera

Sê paciente; espera
que a palavra amadureça
e se desprenda como um fruto
ao passar o vento que a mereça.

[Eugénio de Andrade]

terça-feira, abril 07, 2009

Mata de Sintra


Foto: Gentileza A. Fachada