quinta-feira, setembro 14, 2006

Não partas já

Não tenhas medo do amor.
Pousa a tua mão devagar
sobre o peito da terra
e sente respirar
no seu seio os nomes das coisas
que ali estão a crescer:
o linho e genciana;
as ervilhas-de-cheiro
e as campainhas azuis;
a menta perfumada
para as infusões do verão
e a teia de raízes de um pequeno loureiro
que se organiza como uma rede
de veias na confusão de um corpo.
A vida nunca foi só Inverno,
nunca foi só bruma e desamparo.
Se bem que chova ainda,
não te importes:
pousa a tua mão devagar
sobre o teu peito
e ouve o clamor da tempestade
que faz ruir os muros:
explode no teu coração um amor-perfeito,
será doce o seu pólen
na corola de um beijo,
não tenhas medo,
hão-de pedir-to
quando chegar a primavera.

Mª. do Rosário Pedreira

Sem comentários: