segunda-feira, novembro 27, 2006

Tropeço de ternura por ti

É simples a separação.
Adeus.
Desenlaçado o último abraço, uma pressa de dar costas um
ao outro.
Já não há gestos. O derradeiro (impossível) seria não
desfazer o abraço.
Pressa de cada um retomar o outro na teia lenta da
remembrança.
Não desfazer o abraço. Ficar face encostada ao niagara dos
cabelos.
Sobram fotografias, voz no gravador, um bilhete na caixa
do correio. Sobra o telefone.
Tensão – telefone. Experimentada. Sofrida.
Tensão – telefone. Possibilidade de voz não póstuma.
No gravador, voz de ontem, de anteontem. De há anos.
Sobra o telefone. Mudo.
Retininte?
Sobrarão as cartas. Sobra a espera.
Na teia lenta da remembrança, retomo-te em memória
recente: na praia de ternura onde nos enrolámos e
desenrolámos desesperados de separação.
Sobra a separação.

alexandre o' neill

1 comentário:

Anónimo disse...

Me vi no poema.
É triste uma separação, mas descreve bem a dor da perda, as lembranças a tensão do telefone a tocar... a despedida, o ultimo beijo!
Adorei!
NaNa