quarta-feira, maio 30, 2007
Ainda não
Ainda não
não há dinheiro para partir de vez
não há espaço de mais para ficar
ainda não se pode abrir uma veia
e morrer antes de alguém chegar
ainda não há uma flor na boca
para os poetas que estão aqui de passagem
e outra escarlate na alma
para os postos à margem.
ainda não há nada no pulmão direito
ainda não se respira como devia ser
ainda não é por isso que choramos às vezes
e que outras somos heróis a valer
ainda não é a pátria que é uma maçada
nem estar deste lado que custa a cabeça
ainda não há uma escada e outra escada depois
para descer à frente de quem quer que desça.
ainda não há camas só para pesadelos
ainda não se ama só no chão
ainda não há uma granada
ainda não há um coração
António José Forte
[Uma Faca nos Dentes]
não há dinheiro para partir de vez
não há espaço de mais para ficar
ainda não se pode abrir uma veia
e morrer antes de alguém chegar
ainda não há uma flor na boca
para os poetas que estão aqui de passagem
e outra escarlate na alma
para os postos à margem.
ainda não há nada no pulmão direito
ainda não se respira como devia ser
ainda não é por isso que choramos às vezes
e que outras somos heróis a valer
ainda não é a pátria que é uma maçada
nem estar deste lado que custa a cabeça
ainda não há uma escada e outra escada depois
para descer à frente de quem quer que desça.
ainda não há camas só para pesadelos
ainda não se ama só no chão
ainda não há uma granada
ainda não há um coração
António José Forte
[Uma Faca nos Dentes]
terça-feira, maio 29, 2007
Um céu e nada mais
Um céu e nada mais - que só um temos,
como neste sistema: só um sol.
Mas luzes a fingir, dependuradas
em abóbada azul - como de tecto.
E o seu número tal, que deslumbrados
eram os teus olhos, se tas mostrasse,
amor, tão ribalta azul, como de
circo, e dança então comigo no
trapézio, poema em alto risco,
e um levíssimo toque de mistério.
Pega nas lantejoulas a fingir
de sóis mal descobertos e lança
agora a âncora maior sobre o meu
coração. Que não te assuste o som
desse trovão que ainda agora ouviste,
era de deus a sua voz, ou mito,
era de um anjo por demais caído.
Mas, de verdade: natural fenómeno
a invadir-te as veias e o cérebro,
tão frágil como álcool, tão de
potente e liso como álcool
implodindo do céu e das estrelas,
imensas a fingir e penduradas
sobre abóbada azul. Se te mostrasse,
amor, a cor do pesadelo que por
aqui passou agora mesmo, um céu
e nada mais -que nada temos,
que não seja esta angústia de
mortais (e a maldição da rima,
já agora, a invadir poema em alto
risco), e a dança no trapézio
proibido, sem rede, deus, ou lei,
nem música de dança, nem sequer
inocência de criança, amor,
nem inocência. Um céu e nada mais.
Ana Luísa Amaral
[Às Vezes o Paraíso]
como neste sistema: só um sol.
Mas luzes a fingir, dependuradas
em abóbada azul - como de tecto.
E o seu número tal, que deslumbrados
eram os teus olhos, se tas mostrasse,
amor, tão ribalta azul, como de
circo, e dança então comigo no
trapézio, poema em alto risco,
e um levíssimo toque de mistério.
Pega nas lantejoulas a fingir
de sóis mal descobertos e lança
agora a âncora maior sobre o meu
coração. Que não te assuste o som
desse trovão que ainda agora ouviste,
era de deus a sua voz, ou mito,
era de um anjo por demais caído.
Mas, de verdade: natural fenómeno
a invadir-te as veias e o cérebro,
tão frágil como álcool, tão de
potente e liso como álcool
implodindo do céu e das estrelas,
imensas a fingir e penduradas
sobre abóbada azul. Se te mostrasse,
amor, a cor do pesadelo que por
aqui passou agora mesmo, um céu
e nada mais -que nada temos,
que não seja esta angústia de
mortais (e a maldição da rima,
já agora, a invadir poema em alto
risco), e a dança no trapézio
proibido, sem rede, deus, ou lei,
nem música de dança, nem sequer
inocência de criança, amor,
nem inocência. Um céu e nada mais.
Ana Luísa Amaral
[Às Vezes o Paraíso]
domingo, maio 27, 2007
Segundo
Segundo (s) nos contam
Faz-se o tempo
Entre o sol e a lua.
Breve eternidade
Esses instantes
Do tempo
Solto em segundos
Soltos no mundo.
Estranha liberdade essa
A do tempo…
Como a eternidade que pode durar
O Instante da fotografia
Aquele que passa por nós
No filme do dia-a-dia
Tão esquecido e espezinhado
Jaz
Solitário nos caixões fotográficos
Que a memória não evitou
Em virtude do próximo
E do próximo
E do próximo…
E de todos os próximos
Morrem os segundos
Da vida do primeiro
Aqueles que nos fazem
Segundo a segundo…
Aqueles que nos contam.
©Amores Perfeitos – Nuno Pinto Bastos
Faz-se o tempo
Entre o sol e a lua.
Breve eternidade
Esses instantes
Do tempo
Solto em segundos
Soltos no mundo.
Estranha liberdade essa
A do tempo…
Como a eternidade que pode durar
O Instante da fotografia
Aquele que passa por nós
No filme do dia-a-dia
Tão esquecido e espezinhado
Jaz
Solitário nos caixões fotográficos
Que a memória não evitou
Em virtude do próximo
E do próximo
E do próximo…
E de todos os próximos
Morrem os segundos
Da vida do primeiro
Aqueles que nos fazem
Segundo a segundo…
Aqueles que nos contam.
©Amores Perfeitos – Nuno Pinto Bastos
Fui capaz!
Por ti, fui capaz,
e não interessa
do que fui capaz!...
- Nem tudo em mim
foi mau e negativo! –
Mas tu não és capaz,
e só amando,
a vida faz sentido!
Maleza
e não interessa
do que fui capaz!...
- Nem tudo em mim
foi mau e negativo! –
Mas tu não és capaz,
e só amando,
a vida faz sentido!
Maleza
sexta-feira, maio 25, 2007
Sem fim
Pela calçada
Solto os meus pensamentos
Num gesto contínuo
Aquele que percorro
Sem remorsos nem orações
No caminho onde vagueiam
As minhas lamúrias
E largo as minhas luxúrias
Num jeito de despedida
De onde sinto estranhos
Os corações.
Pinto em fúria a minha vida
Em arte enriquecida
Com a ruptura virgem
Esquecida
Algures adormecida
Virgem
Dentro de mim
Vagabunda
Sem mim
Nesta calçada
Sem fim.
©Amores Perfeitos – Nuno Pinto Bastos
Solto os meus pensamentos
Num gesto contínuo
Aquele que percorro
Sem remorsos nem orações
No caminho onde vagueiam
As minhas lamúrias
E largo as minhas luxúrias
Num jeito de despedida
De onde sinto estranhos
Os corações.
Pinto em fúria a minha vida
Em arte enriquecida
Com a ruptura virgem
Esquecida
Algures adormecida
Virgem
Dentro de mim
Vagabunda
Sem mim
Nesta calçada
Sem fim.
©Amores Perfeitos – Nuno Pinto Bastos
quinta-feira, maio 24, 2007
terça-feira, maio 22, 2007
domingo, maio 20, 2007
Lama pisada
Alguma estrela caridosa,
me emprestou um raio de luz
para devolver?
Algum pedaço do céu azul,
se desprendeu,
para haver paraíso,
dentro do charco sujo
de mim mesma?
Alguém me encheu
as mãos vazias de nada,
para eu ter a ilusão
de possuir ainda?
Ninguém responde?
Os charcos não podem ser lagos?
Nem correntes? Não?
Ninguém fala?
As poças não podem ter luz?
Ser transparentes?
Levem o que é vosso,
deixem ficar só o que é meu!
Não deixam nada?
Sacudam os sapatos,
que eu sou essa lama pisada!
Maleza
[Benguela, 1972]
me emprestou um raio de luz
para devolver?
Algum pedaço do céu azul,
se desprendeu,
para haver paraíso,
dentro do charco sujo
de mim mesma?
Alguém me encheu
as mãos vazias de nada,
para eu ter a ilusão
de possuir ainda?
Ninguém responde?
Os charcos não podem ser lagos?
Nem correntes? Não?
Ninguém fala?
As poças não podem ter luz?
Ser transparentes?
Levem o que é vosso,
deixem ficar só o que é meu!
Não deixam nada?
Sacudam os sapatos,
que eu sou essa lama pisada!
Maleza
[Benguela, 1972]
sábado, maio 19, 2007
Não arranques estrelas ao Céu!
Não roubes pedaços de caridade,
não rasgues bocados de amor,
nem forces sorrisos…
Para os pobres, há sempre a luz do dia
a solidão da noite,
e uma cruz imensa e desnudada…
não, arranques estrelas ao céu,
não me ofereças mãos cheias de nada!
[Maleza]
não rasgues bocados de amor,
nem forces sorrisos…
Para os pobres, há sempre a luz do dia
a solidão da noite,
e uma cruz imensa e desnudada…
não, arranques estrelas ao céu,
não me ofereças mãos cheias de nada!
[Maleza]
sexta-feira, maio 18, 2007
O Palhaço
Anda-se a rir, a rir dentro de mim,
Com as lívidas faces desbotadas
Um estranho palhaço de cetim,
Rasgando em dor meu peito às gargalhadas!
Sobe aos meus olhos sempre a rir assim -
Espreitando as figuras malsinadas
Que não se vestem nunca de arlequim,
Mas andam pela vida disfarçadas.
Na sombra dos meus cílios, emboscado,
Ri, no meu olhar frio e desolado,
Escondendo-se atónito e surpreso
E quando desce à triste moradia,
Vem mais louco e soberbo de ironia
Na irrisão dum sarcástico desprezo!
JUDITH TEIXEIRA
[1880-1959]
Com as lívidas faces desbotadas
Um estranho palhaço de cetim,
Rasgando em dor meu peito às gargalhadas!
Sobe aos meus olhos sempre a rir assim -
Espreitando as figuras malsinadas
Que não se vestem nunca de arlequim,
Mas andam pela vida disfarçadas.
Na sombra dos meus cílios, emboscado,
Ri, no meu olhar frio e desolado,
Escondendo-se atónito e surpreso
E quando desce à triste moradia,
Vem mais louco e soberbo de ironia
Na irrisão dum sarcástico desprezo!
JUDITH TEIXEIRA
[1880-1959]
quinta-feira, maio 17, 2007
Intervalo
Rua Patrão Joaquim Casaca
Quando nasci,
em rendas e afagos
Os rouxinóis vinham com a aurora esperar a Primavera
Mas o seu canto
Emudeceu de espanto
Como se o meu choro os degolasse.
Minha mãe, nessa noite,
Sonhara com o aceno húmido de um lenço
Branco
Num dia de partida.
Ó Terra
eu cheguei e tu ficaste ainda.
Porque não estoiraste se foste iludida
[Fernando Namora]
quarta-feira, maio 16, 2007
Poema da Utopia
A noite caiu sem manchas e sem culpa.
Os homens largaram as máscaras de bons actores.
Findou o espectáculo. Tudo o mais é arrabalde.
No alto, a utópica Lua vela comigo
E sonha coalhar de branco as sombras do mundo.
Um palhaço, a seu lado, sopra no ventre dos búzios.
Noite! Se o espectáculo findou
Deixa-nos também dormir.
FERNANDO NAMORA
Os homens largaram as máscaras de bons actores.
Findou o espectáculo. Tudo o mais é arrabalde.
No alto, a utópica Lua vela comigo
E sonha coalhar de branco as sombras do mundo.
Um palhaço, a seu lado, sopra no ventre dos búzios.
Noite! Se o espectáculo findou
Deixa-nos também dormir.
FERNANDO NAMORA
terça-feira, maio 15, 2007
SOLETRANDO A SOLIDÃO
A dor que sinto não é de vazios
Dentro de mim,
vozes - ternuras
mãos - aquecidas
palavras - ecoantes
promessas - vidas
Dentro de mim,
um rio
uma pedra
uma trilha
uma rua
uma estrela
um apito
um trem
uma aldeia
A dor que sinto é de cheios
Dentro de mim...moradas
Carrego multidões alvoroçadas
A dor que sinto...não é de retalhos
Padeço de inteiros!
[Ana Merij]
Dentro de mim,
vozes - ternuras
mãos - aquecidas
palavras - ecoantes
promessas - vidas
Dentro de mim,
um rio
uma pedra
uma trilha
uma rua
uma estrela
um apito
um trem
uma aldeia
A dor que sinto é de cheios
Dentro de mim...moradas
Carrego multidões alvoroçadas
A dor que sinto...não é de retalhos
Padeço de inteiros!
[Ana Merij]
segunda-feira, maio 14, 2007
domingo, maio 13, 2007
UM POEMA
Não tenhas medo, ouve:
É um poema
Um misto de oração e de feitiço...
Sem qualquer compromisso,
Ouve-o atentamente,
De coração lavado.
Poderás decorá-lo
E rezá-lo
Ao deitar
Ao levantar,
Ou nas restantes horas de tristeza.
Na segura certeza
De que mal não te faz.
E pode acontecer que te dê paz...
[Miguel Torga, Diário XIII]
É um poema
Um misto de oração e de feitiço...
Sem qualquer compromisso,
Ouve-o atentamente,
De coração lavado.
Poderás decorá-lo
E rezá-lo
Ao deitar
Ao levantar,
Ou nas restantes horas de tristeza.
Na segura certeza
De que mal não te faz.
E pode acontecer que te dê paz...
[Miguel Torga, Diário XIII]
sábado, maio 12, 2007
O SONHO
Pelo sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.
Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma dêmos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia-a-dia.
Chegamos? Não chegamos?
Partimos. Vamos. Somos.
Sebastião da Gama
comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.
Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma dêmos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia-a-dia.
Chegamos? Não chegamos?
Partimos. Vamos. Somos.
Sebastião da Gama
sexta-feira, maio 11, 2007
quinta-feira, maio 10, 2007
Tortura
Tirar dentro do peito a Emoção,
A lúcida verdade, o Sentimento!
-- E ser, depois de vir do coração,
Um punhado de cinza esparso ao vento!...
Sonhar um verso de alto pensamento,
E puro como um ritmo de oração!
-- E ser, depois de vir do coração,
O pó, o nada, o sonho dum momento...
São assim ocos, rudes, os meus versos:
Rimas perdidas, vendavais dispersos,
Com que eu iludo os outros, com que minto!
Quem me dera encontrar o verso puro,
O verso altivo e forte, estranho e duro,
Que dissesse, a chorar, isto que sinto!!
Florbela Espanca
A lúcida verdade, o Sentimento!
-- E ser, depois de vir do coração,
Um punhado de cinza esparso ao vento!...
Sonhar um verso de alto pensamento,
E puro como um ritmo de oração!
-- E ser, depois de vir do coração,
O pó, o nada, o sonho dum momento...
São assim ocos, rudes, os meus versos:
Rimas perdidas, vendavais dispersos,
Com que eu iludo os outros, com que minto!
Quem me dera encontrar o verso puro,
O verso altivo e forte, estranho e duro,
Que dissesse, a chorar, isto que sinto!!
Florbela Espanca
quarta-feira, maio 09, 2007
Inocência
No quintal havia uma árvore
e na árvore um baloiço
tantas vezes me baloicei
que um dia caí.
Sei hoje que esse baloiço
foi apenas o primeiro da minha vida.
[Gabriela Moura]
e na árvore um baloiço
tantas vezes me baloicei
que um dia caí.
Sei hoje que esse baloiço
foi apenas o primeiro da minha vida.
[Gabriela Moura]
domingo, maio 06, 2007
sábado, maio 05, 2007
sexta-feira, maio 04, 2007
AMAR
Amar, é dar sem nenhum jeito,
como a mulher dos seios ressequidos,
que rasga a carne, e põe o filho ao peito.
Amar é uma loucura escandalosa,
Como a de Deus na cruz,
amar, é transformar a lama em rosa,
a angústia em violeta e a tristeza em luz!
[Maleza]
como a mulher dos seios ressequidos,
que rasga a carne, e põe o filho ao peito.
Amar é uma loucura escandalosa,
Como a de Deus na cruz,
amar, é transformar a lama em rosa,
a angústia em violeta e a tristeza em luz!
[Maleza]
quinta-feira, maio 03, 2007
terça-feira, maio 01, 2007
Profeta…
FÁBULA OU HISTÓRIA
Um dia, magro s sentindo um real desfastio,
Um macaco com a pele de um tigre se vestiu.
O tigre fora malvado, ele tornou-se atroz.
Ele tinha assumido o direito de ser feroz.
Arreganhava os dentes, gritando: eu serei
O herói dos matagais, da noite o temível rei!
Como malfeitor dos bosques, emboscado nos espinhos,
De horror, morte e rapinas, escureceu os caminhos,
Degolou os viajantes e devastou a floresta,
Fez tudo o que faz aquela pele funesta.
Vivia no seu antro, no meio da voragem.
Todos, vendo-lhe a pele, criaram a personagem.
Gritava e rugia como as feras danadas:
Olhem, a minha caverna está cheia de ossadas;
Olhem para mim, sou um tigre! Tudo treme,
Diante de mim, tudo recua e emigra; tudo freme!
Temiam-no os animais, fugindo com grandes passos.
Um domador apareceu e tomando-o nos braços,
Rasgou-lhe a pele, como se rasga um farrapo,
E, pondo a nu o herói, disse: Não passas de um macaco!
Victor Hugo
[Jersey, 09 – 1852]
Um dia, magro s sentindo um real desfastio,
Um macaco com a pele de um tigre se vestiu.
O tigre fora malvado, ele tornou-se atroz.
Ele tinha assumido o direito de ser feroz.
Arreganhava os dentes, gritando: eu serei
O herói dos matagais, da noite o temível rei!
Como malfeitor dos bosques, emboscado nos espinhos,
De horror, morte e rapinas, escureceu os caminhos,
Degolou os viajantes e devastou a floresta,
Fez tudo o que faz aquela pele funesta.
Vivia no seu antro, no meio da voragem.
Todos, vendo-lhe a pele, criaram a personagem.
Gritava e rugia como as feras danadas:
Olhem, a minha caverna está cheia de ossadas;
Olhem para mim, sou um tigre! Tudo treme,
Diante de mim, tudo recua e emigra; tudo freme!
Temiam-no os animais, fugindo com grandes passos.
Um domador apareceu e tomando-o nos braços,
Rasgou-lhe a pele, como se rasga um farrapo,
E, pondo a nu o herói, disse: Não passas de um macaco!
Victor Hugo
[Jersey, 09 – 1852]
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