domingo, maio 20, 2007

Lama pisada

Alguma estrela caridosa,
me emprestou um raio de luz
para devolver?

Algum pedaço do céu azul,
se desprendeu,
para haver paraíso,
dentro do charco sujo
de mim mesma?

Alguém me encheu
as mãos vazias de nada,
para eu ter a ilusão
de possuir ainda?

Ninguém responde?
Os charcos não podem ser lagos?
Nem correntes? Não?
Ninguém fala?
As poças não podem ter luz?
Ser transparentes?

Levem o que é vosso,
deixem ficar só o que é meu!
Não deixam nada?
Sacudam os sapatos,
que eu sou essa lama pisada!

Maleza
[Benguela, 1972]

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