terça-feira, julho 31, 2007
sábado, julho 28, 2007
Porque hoje é sábado…
…Quando aos que de mordacidade me acusam, responderei sempre que ao escritor foi permitida a liberdade de rir das inferioridades da vida humana, com a condição de não ofender ninguém. Admiro a delicadeza dos ouvidos do nosso tempo, que não admitem mais do que a linguagem plena de lisonja solene…
Erasmo
[Elogio da loucura]
Erasmo
[Elogio da loucura]
sexta-feira, julho 27, 2007
quinta-feira, julho 26, 2007
Se tu viesses ver-me
Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...
Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...
Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri
E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...
[Florbela Espanca]
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...
Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...
Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri
E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...
[Florbela Espanca]
quarta-feira, julho 25, 2007
Bilhete
Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...
[Mário Quintana]
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...
[Mário Quintana]
Poema sobre a recusa
Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
nem na polpa dos meus dedos
se ter formado o afago
sem termos sido a cidade
nem termos rasgado pedras
sem descobrirmos a cor
nem o interior da erva.
Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
minha raiva de ternura
meu ódio de conhecer-te
minha alegria profunda.
[Maria Teresa Horta]
sem nunca te ter achado
nem na polpa dos meus dedos
se ter formado o afago
sem termos sido a cidade
nem termos rasgado pedras
sem descobrirmos a cor
nem o interior da erva.
Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
minha raiva de ternura
meu ódio de conhecer-te
minha alegria profunda.
[Maria Teresa Horta]
Súplica
Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.
Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.
[Miguel Torga]
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.
Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.
[Miguel Torga]
terça-feira, julho 24, 2007
Faz-me o favor...
Faz-me o favor de não dizer absolutamente nada!
Supor o que dirá
Tua boca velada
É ouvir-te já.
É ouvir-te melhor
Do que o dirias.
O que és não vem à flor
Das caras e dos dias.
Tu és melhor -- muito melhor!
Do que tu. Não digas nada. Sê
Alma do corpo nu
Que do espelho se vê.
[Mário Cesariny]
Supor o que dirá
Tua boca velada
É ouvir-te já.
É ouvir-te melhor
Do que o dirias.
O que és não vem à flor
Das caras e dos dias.
Tu és melhor -- muito melhor!
Do que tu. Não digas nada. Sê
Alma do corpo nu
Que do espelho se vê.
[Mário Cesariny]
domingo, julho 22, 2007
Aceitar!
Aceitar…
Difícil de viver
esta palavra
tão simples de dizer
Aceitar o que sou,
e o que os outros são…
Aceitar o não ser
glicínia perfumada,
olhando o céu,
mas ervita rasteira
como eu.
Aceitar com arrojo,
não ser girassol,
mas sim tojo.
Aceitar o que for,
uma vida vazia
a transbordar de amor!
Maleza
[Benguela]
Difícil de viver
esta palavra
tão simples de dizer
Aceitar o que sou,
e o que os outros são…
Aceitar o não ser
glicínia perfumada,
olhando o céu,
mas ervita rasteira
como eu.
Aceitar com arrojo,
não ser girassol,
mas sim tojo.
Aceitar o que for,
uma vida vazia
a transbordar de amor!
Maleza
[Benguela]
sábado, julho 21, 2007
sexta-feira, julho 20, 2007
quinta-feira, julho 19, 2007
quarta-feira, julho 18, 2007
Aves rumando a norte
aves estranhas rumam a norte às vezes
cansadas do sul
buscam novos pontos cardeais ao vento
mudas de impaciência
riscam as nuvens em silêncio e batem
o desespero nas asas
não encontram o sol refugiado aos pés
do horizonte tropical
coleccionam bátegas de chuva no rosto
ensopadas de suor
não recuam até às portas do céu e avançam
prisioneiras do voo
seguem em direcção de constelações etéreas
sem olhar para trás
é como se uma consciência viva e madura
lhes soprasse a voz de comando
o sacrifício é o nada a morte o ápice
o hálito do infinito
desenham mapas de sombras com a luz às costas
e gritam de desimporte
são essas as aves que não rumam a sul
atraídas pelo norte
José António Gonçalves
(in "Os Pássaros Breves")
cansadas do sul
buscam novos pontos cardeais ao vento
mudas de impaciência
riscam as nuvens em silêncio e batem
o desespero nas asas
não encontram o sol refugiado aos pés
do horizonte tropical
coleccionam bátegas de chuva no rosto
ensopadas de suor
não recuam até às portas do céu e avançam
prisioneiras do voo
seguem em direcção de constelações etéreas
sem olhar para trás
é como se uma consciência viva e madura
lhes soprasse a voz de comando
o sacrifício é o nada a morte o ápice
o hálito do infinito
desenham mapas de sombras com a luz às costas
e gritam de desimporte
são essas as aves que não rumam a sul
atraídas pelo norte
José António Gonçalves
(in "Os Pássaros Breves")
terça-feira, julho 17, 2007
Sou
Sou alma,
sou dor.
Sou sonho,
e amor.
Sou peixe,
ou pássaro,
sou tigre,
sou flor.
Sou céu,
sou mar.
Sou sol
ou luar.
Sou imagem
ou talvez ilusão.
Sou paisagem
sou emoção.
Sou morte,
sou vida,
sou criança
esquecida.
Sou papel
amachucado.
Sou o mel
só por ti provado.
Sou quem sou,
o que sou,
apenas eu,
de ti nada ficou.
[Joaninhah]
sou dor.
Sou sonho,
e amor.
Sou peixe,
ou pássaro,
sou tigre,
sou flor.
Sou céu,
sou mar.
Sou sol
ou luar.
Sou imagem
ou talvez ilusão.
Sou paisagem
sou emoção.
Sou morte,
sou vida,
sou criança
esquecida.
Sou papel
amachucado.
Sou o mel
só por ti provado.
Sou quem sou,
o que sou,
apenas eu,
de ti nada ficou.
[Joaninhah]
segunda-feira, julho 16, 2007
sábado, julho 14, 2007
Senilidade…
…Quanto mais os homens acedem à senilidade, tanto mais ganham em semelhança com a puerícia ; e, por fim, emigram como crianças, sem tédio da vida, sem consciência da morte…
Erasmo
[Elogio da loucura]
Erasmo
[Elogio da loucura]
quinta-feira, julho 12, 2007
Auto-Retrato
Espáduas brancas palpitantes:
asas no exílio dum corpo.
Os braços calhas cintilantes
para o comboio da alma.
E os olhos emigrantes
no navio da pálpebra
encalhado em renúncia ou cobardia.
Por vezes fêmea. Por vezes monja.
Conforme a noite. Conforme o dia.
Molusco. Esponja
embebida num filtro de magia.
Aranha de ouro
presa na teia dos seus ardis.
E aos pés um coração de louça
quebrado em jogos infantis.
Natália Correia
[Poesia Completa Publicações Dom Quixote 1999]
asas no exílio dum corpo.
Os braços calhas cintilantes
para o comboio da alma.
E os olhos emigrantes
no navio da pálpebra
encalhado em renúncia ou cobardia.
Por vezes fêmea. Por vezes monja.
Conforme a noite. Conforme o dia.
Molusco. Esponja
embebida num filtro de magia.
Aranha de ouro
presa na teia dos seus ardis.
E aos pés um coração de louça
quebrado em jogos infantis.
Natália Correia
[Poesia Completa Publicações Dom Quixote 1999]
quarta-feira, julho 11, 2007
terça-feira, julho 10, 2007
As crinas do vento
o vento: música ou murmúrio da árvore.
Encosta a obsessão à parede branca dos quintais.
Vento de mar? E jovem leva a nuvem.
Os sinos de bronze, o cimo das searas:
viver é brusco, tão incerto.
E a minha mão, desabituada de sentir que toca
e é gesto
e me deixa possuir,
a minha mão quer a janela aberta. O vento não tem,
não, não tem
crinas.
Nem as costas luzidias de cavalo ou égua.
Áspero,
vidro partido espetado na terra.
Os dentes de uma serra,
espaço de repouso e cume que agride.
Pôr a mão em tanto
e sem respirar
quando parecia que era tarde e apenas
hora de dormir?
João Camilo
[A Ambição Sublime]
Encosta a obsessão à parede branca dos quintais.
Vento de mar? E jovem leva a nuvem.
Os sinos de bronze, o cimo das searas:
viver é brusco, tão incerto.
E a minha mão, desabituada de sentir que toca
e é gesto
e me deixa possuir,
a minha mão quer a janela aberta. O vento não tem,
não, não tem
crinas.
Nem as costas luzidias de cavalo ou égua.
Áspero,
vidro partido espetado na terra.
Os dentes de uma serra,
espaço de repouso e cume que agride.
Pôr a mão em tanto
e sem respirar
quando parecia que era tarde e apenas
hora de dormir?
João Camilo
[A Ambição Sublime]
segunda-feira, julho 09, 2007
Dedos razão das coisas
os longos corredores que dos teus dedos sobem
ao labirinto entrelaçado em tuas veias
levam destas coisas a mais ténue superfície
e espalham pelo sangue o ar que elas transpiram
vou pelos teus dedos levadiça ponte
à repetida página do corpo
é lá que assentam as raízes do que vemos solto
a vaguear por sobre a terra e dentro das palavras
abre a tua mão onde a certeza faz o ninho
entre os teus dedos corre uma quadriga desvairada
que outras rédeas não permite além da própria sombra
leves são os dias ágeis as promessas
sem ruído a vida escorre assim pelas paredes
e é pelos teus dedos que se contam coisas como estas
in A herança de Hölderlin 1978
domingo, julho 08, 2007
sábado, julho 07, 2007
Colectânea
Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
***** ***** ******
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já foi coberto de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.
[Luís de Camões]
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
***** ***** ******
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já foi coberto de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.
[Luís de Camões]
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