quarta-feira, julho 18, 2007

Aves rumando a norte

aves estranhas rumam a norte às vezes
cansadas do sul

buscam novos pontos cardeais ao vento
mudas de impaciência

riscam as nuvens em silêncio e batem
o desespero nas asas

não encontram o sol refugiado aos pés
do horizonte tropical

coleccionam bátegas de chuva no rosto
ensopadas de suor

não recuam até às portas do céu e avançam
prisioneiras do voo

seguem em direcção de constelações etéreas
sem olhar para trás

é como se uma consciência viva e madura
lhes soprasse a voz de comando

o sacrifício é o nada a morte o ápice
o hálito do infinito

desenham mapas de sombras com a luz às costas
e gritam de desimporte

são essas as aves que não rumam a sul
atraídas pelo norte

José António Gonçalves
(in "Os Pássaros Breves")

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