Morte, minha Senhora Dona Morte,
Tão bom que deve ser o teu abraço!
Lânguido e doce como um doce laço
E, como uma raiz, sereno e forte.
Não há mal que não sare ou não conforte
Tua mão que nos guia passo a passo,
Em ti, dentro de ti, no teu regaço
Não há triste destino nem má sorte.
Dona Morte dos dedos de veludo,
Fecha-me os olhos que já viram tudo!
Prende-me as asas que voaram tanto!
Vim da Moirama, sou filha de rei,
Má fada me encantou e aqui fiquei
À tua espera…quebra-me o encanto!
[Florbela Espanca ]
quarta-feira, julho 30, 2008
terça-feira, julho 29, 2008
Noite
É de noite que as palavras se soltam,
sem destinos nem contornos,
vagueando plurais em seus sentidos,
omitindo-se e revelando-se.
É de noite que me solto no sentir,
quando no adormecido silêncio
as palavras se fantasiam e libertam.
É de noite que acordo o poema
na sonolência do verbo,
na indigência dos significados,
na suavidade dos desvarios
consumados.
É de noite, na noite de mim,
que diariamente me exponho
nos silêncios libertados.
[ Helena Monteiro] in Antologia da Ases
sem destinos nem contornos,
vagueando plurais em seus sentidos,
omitindo-se e revelando-se.
É de noite que me solto no sentir,
quando no adormecido silêncio
as palavras se fantasiam e libertam.
É de noite que acordo o poema
na sonolência do verbo,
na indigência dos significados,
na suavidade dos desvarios
consumados.
É de noite, na noite de mim,
que diariamente me exponho
nos silêncios libertados.
[ Helena Monteiro] in Antologia da Ases
segunda-feira, julho 28, 2008
Noivado Estranho
O luar branco, um riso de Jesus,
Inunda a minha rua toda inteira,
E a Noite é uma flor de laranjeira
A sacudir as pétalas de luz…
O luar é uma lenda de balada
Das que avozinhas contam à lareira,
E a Noite é uma flor de laranjeira
Que jaz na minha rua desfolhada…
O Luar vem cansado, vem de longe,
Vem casar-se co’a Terra, a feiticeira
Que enlouqueceu d’amor o pobre monge…
O luar empalidece de cansado…
E a noite é uma flor de laranjeira
A perfumar o místico noivado! …
[Florbela Espanca]
Inunda a minha rua toda inteira,
E a Noite é uma flor de laranjeira
A sacudir as pétalas de luz…
O luar é uma lenda de balada
Das que avozinhas contam à lareira,
E a Noite é uma flor de laranjeira
Que jaz na minha rua desfolhada…
O Luar vem cansado, vem de longe,
Vem casar-se co’a Terra, a feiticeira
Que enlouqueceu d’amor o pobre monge…
O luar empalidece de cansado…
E a noite é uma flor de laranjeira
A perfumar o místico noivado! …
[Florbela Espanca]
domingo, julho 27, 2008
quinta-feira, julho 24, 2008
domingo, julho 20, 2008
quinta-feira, julho 17, 2008
A Solidão da Liberdade
E um dia de tão livre
desejarás a morte
para iludir o não - pertencere
na suprema arrogância do não - querer
ouvirás o silvo distante do trem do adeus
ecoando gestos de ternura omitidos
no quarto de despejo das ausências
e de desejo se gretará a carne
à espera das chuvas de antanho
nos ocos sem fundo do não - dito
e como quem dobra os sinos
dobrarás as asas
de seda e violência
tal mortalha usada
voltando ao baú das ilusões mutiladas
e ainda estremecido pelo rufar do furor ferido de existir
fragor
ardor antes do bolor
colocarás a lápide do mutismo
sobre o estrebuchar da existência
já cacos de aspirações
girando no sideral da incompletude
folhas de outono sob o mistral da finitude
as lâminas do silêncio
ungindo as fissuras da alma
recolhida como feto entre deuses destronados
no deserto do verbo
exílio no tempo
na desolação de seu próprio infinito
alma desterrada
sem destino
sem a luz do sangue
sem redenção
sedenta da prisão do amor
do amor não tido
do amor não sido
do amor não exaurido
do amor não vivido
[R.Roldan-Roldan]
desejarás a morte
para iludir o não - pertencere
na suprema arrogância do não - querer
ouvirás o silvo distante do trem do adeus
ecoando gestos de ternura omitidos
no quarto de despejo das ausências
e de desejo se gretará a carne
à espera das chuvas de antanho
nos ocos sem fundo do não - dito
e como quem dobra os sinos
dobrarás as asas
de seda e violência
tal mortalha usada
voltando ao baú das ilusões mutiladas
e ainda estremecido pelo rufar do furor ferido de existir
fragor
ardor antes do bolor
colocarás a lápide do mutismo
sobre o estrebuchar da existência
já cacos de aspirações
girando no sideral da incompletude
folhas de outono sob o mistral da finitude
as lâminas do silêncio
ungindo as fissuras da alma
recolhida como feto entre deuses destronados
no deserto do verbo
exílio no tempo
na desolação de seu próprio infinito
alma desterrada
sem destino
sem a luz do sangue
sem redenção
sedenta da prisão do amor
do amor não tido
do amor não sido
do amor não exaurido
do amor não vivido
[R.Roldan-Roldan]
Vida
Um ano a mais
um ano a menos
que diferença faz
quando já somos
mais ou menos
mais suaves
mais sábios
mais fortes
mais justos
e de mais a mais
cromossomos
um ano a mais
um ano a menos
a vida é cais
e lá vão nossos sonhos:
barcos pequenos
um ano a mais
um ano a menos
lendo os sinais
nos esquecemos
e quando nos lembramos
é tarde demais
um ano amais
outro adiais
um ano demais
outro de menos
um ano tanto fez
outro tanto faz
um ano como nunca houve outro
um ano sem pagar e só levando o troco
um ano que vem
um ano que vai
e os mesmos ais
mais amenos
[Antonio Thadeu Wojciechowski]
um ano a menos
que diferença faz
quando já somos
mais ou menos
mais suaves
mais sábios
mais fortes
mais justos
e de mais a mais
cromossomos
um ano a mais
um ano a menos
a vida é cais
e lá vão nossos sonhos:
barcos pequenos
um ano a mais
um ano a menos
lendo os sinais
nos esquecemos
e quando nos lembramos
é tarde demais
um ano amais
outro adiais
um ano demais
outro de menos
um ano tanto fez
outro tanto faz
um ano como nunca houve outro
um ano sem pagar e só levando o troco
um ano que vem
um ano que vai
e os mesmos ais
mais amenos
[Antonio Thadeu Wojciechowski]
quarta-feira, julho 16, 2008
Do inferno
Do inferno voltei contemplando o vazio
Em meu corpo trago os sinais
Das batalhas que lutei
Das armas que usei
Das mortes que causei
Numa vertigem sufocante
Sou um ser errante
Que nas veias corre, o fluido coruscante.
Que transforma a dor, numa orgia alucinante.
Incertos passos caminhei,
Que nunca pude vislumbrar
A extensão de minha inocência
Cristalizada em forma e cor
Perdidos passos,
Perdidas almas eu deixei
Em regiões fronteiriças
Do inferno eu voltei
Estou no limiar
E continuo a contemplar.
[Aura Sorrentino]
Em meu corpo trago os sinais
Das batalhas que lutei
Das armas que usei
Das mortes que causei
Numa vertigem sufocante
Sou um ser errante
Que nas veias corre, o fluido coruscante.
Que transforma a dor, numa orgia alucinante.
Incertos passos caminhei,
Que nunca pude vislumbrar
A extensão de minha inocência
Cristalizada em forma e cor
Perdidos passos,
Perdidas almas eu deixei
Em regiões fronteiriças
Do inferno eu voltei
Estou no limiar
E continuo a contemplar.
[Aura Sorrentino]
segunda-feira, julho 14, 2008
domingo, julho 13, 2008
TUDO E NADA
São estes os factos: um dia nasceu como
todos os dias nascem; o pesado eco da voz que
caiu num poço; o ângulo da frase mudando em
não o sim. Todos os factos, porém, podem
ser vistos ao espelho; e são virados do avesso.
Assim: um dia nasce diferente de ontem; a
voz entra pela água, sem retorno; a frase é
direita, sem sim e sem não. Depois, entre
a realidade e a sua imagem, não sei o que
hei-de escolher. Tenho-as à minha frente;
e pratico a dúvida metódica do filósofo,
sem saber se o real é ilusório, ou se é essa
a sua própria realidade. Posso manter esta
confusão, por algum tempo, antes que a
realidade caia ao chão e se parta, como um
espelho, espalhando a imagem em mil
pedaços pelo chão. Depois, tento colar
os restos; e o que fica é um quebra cabeças
onde nada e tudo têm o seu lugar, que
é tão real como esta imagem que lhe dou.
[Nuno Júdice]
todos os dias nascem; o pesado eco da voz que
caiu num poço; o ângulo da frase mudando em
não o sim. Todos os factos, porém, podem
ser vistos ao espelho; e são virados do avesso.
Assim: um dia nasce diferente de ontem; a
voz entra pela água, sem retorno; a frase é
direita, sem sim e sem não. Depois, entre
a realidade e a sua imagem, não sei o que
hei-de escolher. Tenho-as à minha frente;
e pratico a dúvida metódica do filósofo,
sem saber se o real é ilusório, ou se é essa
a sua própria realidade. Posso manter esta
confusão, por algum tempo, antes que a
realidade caia ao chão e se parta, como um
espelho, espalhando a imagem em mil
pedaços pelo chão. Depois, tento colar
os restos; e o que fica é um quebra cabeças
onde nada e tudo têm o seu lugar, que
é tão real como esta imagem que lhe dou.
[Nuno Júdice]
terça-feira, julho 08, 2008
Minha culpa
Sei lá! Sei lá! Eu sei lá bem
Quem sou? Um fogo-fátuo, uma miragem...
Sou um reflexo... um canto de paisagem
Ou apenas cenário! Um vaivém
Como a sorte: hoje aqui, depois além!
Sei lá quem sou? Sei lá! Sou a roupagem
De um doido que partiu numa romagem
E nunca mais voltou! Eu sei lá quem!...
Sou um verme que um dia quis ser astro...
Uma estátua truncada de alabastro..
Uma chaga sangrenta do Senhor...
Sei lá quem sou?! Sei lá! Cumprindo os fados,
Num mundo de maldades e pecados,
Sou mais um mau, sou mais um pecador...
[Florbela Espanca]
Quem sou? Um fogo-fátuo, uma miragem...
Sou um reflexo... um canto de paisagem
Ou apenas cenário! Um vaivém
Como a sorte: hoje aqui, depois além!
Sei lá quem sou? Sei lá! Sou a roupagem
De um doido que partiu numa romagem
E nunca mais voltou! Eu sei lá quem!...
Sou um verme que um dia quis ser astro...
Uma estátua truncada de alabastro..
Uma chaga sangrenta do Senhor...
Sei lá quem sou?! Sei lá! Cumprindo os fados,
Num mundo de maldades e pecados,
Sou mais um mau, sou mais um pecador...
[Florbela Espanca]
O atirador
Viam-no, outra vez, cair de bruços,
baleado.
Mas viam outra vez erguer-se, invulnerável,
assombroso, terrível, abatendo-se
e aprumando-se, o atirador fantástico.
[Augusto de Campos]
baleado.
Mas viam outra vez erguer-se, invulnerável,
assombroso, terrível, abatendo-se
e aprumando-se, o atirador fantástico.
[Augusto de Campos]
segunda-feira, julho 07, 2008
A mesma brisa
A mesma brisa
De entardeceres passados
Lambe minha pele
E me faz revivê-los.
E enlaçado por intrépidos braços
– Poentes Sempre –
Percebo com triste doçura:
Meus amores têm a cor do entardecer.
[André de Oliveira Coelho]
De entardeceres passados
Lambe minha pele
E me faz revivê-los.
E enlaçado por intrépidos braços
– Poentes Sempre –
Percebo com triste doçura:
Meus amores têm a cor do entardecer.
[André de Oliveira Coelho]
Capricho da tarde
capricho da tarde
cintilam gotas amantes
juntas em arco-íris
[André de Oliveira Coelho]
cintilam gotas amantes
juntas em arco-íris
[André de Oliveira Coelho]
domingo, julho 06, 2008
sábado, julho 05, 2008
quarta-feira, julho 02, 2008
Subtilíssimo eterno
Subtilíssimo eterno que habita
minhas saletas interiores
onde trago o tempo guardado
nocturno e resignado
subtilíssimo eterno interior
que como um tálamo é
em minha alma limpa e sofrida
como água dormida em pedra
que eterna seiva alimenta
este tempo em mim retido
plumagem livre de flor
forma exacta imperecível
sinto-te assim como um trunfo
branda coroa do eterno
além das nuvens, das águas
ouço o teu metal desperto
se existes no ser completo
na cinza móvel das sombras
por que retiras de mim
tudo o que em mim não é pântano?
[César Leal]
minhas saletas interiores
onde trago o tempo guardado
nocturno e resignado
subtilíssimo eterno interior
que como um tálamo é
em minha alma limpa e sofrida
como água dormida em pedra
que eterna seiva alimenta
este tempo em mim retido
plumagem livre de flor
forma exacta imperecível
sinto-te assim como um trunfo
branda coroa do eterno
além das nuvens, das águas
ouço o teu metal desperto
se existes no ser completo
na cinza móvel das sombras
por que retiras de mim
tudo o que em mim não é pântano?
[César Leal]
A PONTE
A noite se alonga no trajeto.
Mais que a noite o percurso.
Cruzo uma ponte que nunca termina
colhendo ossadas do mito.
Farrapos de glória no alforje
e heróis distantes daqui.
O dia remoto
acena de dentro da lua.
Dele ecoam vozes
que não podemos ouvir.
Mas atravessam conosco
a ponte a um passo do fim.
[Júlio Polidoro]
Mais que a noite o percurso.
Cruzo uma ponte que nunca termina
colhendo ossadas do mito.
Farrapos de glória no alforje
e heróis distantes daqui.
O dia remoto
acena de dentro da lua.
Dele ecoam vozes
que não podemos ouvir.
Mas atravessam conosco
a ponte a um passo do fim.
[Júlio Polidoro]
terça-feira, julho 01, 2008
Incenso Fosse Música
isso de querer
ser exactamente aquilo
que a gente é
ainda vai nos levar além
Paulo Leminsk
ser exactamente aquilo
que a gente é
ainda vai nos levar além
Paulo Leminsk
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