A minha saudade tem o mar aprisionado
na sua teia de datas e lugares.
É uma matéria vibrátil e nostálgica
que não consigo tocar sem receio,
porque queima os dedos,
porque fere os lábios,
porque dilacera os olhos.
E não me venham dizer que é inocente,
passiva e benigna porque não posso acreditar.
A minha saudade tem mulheres
agarradas ao pescoço dos que partem,
crianças a brincarem nos passeios,
amantes ocultando-se nas sebes,
soldados execrando guerras.
Pode ser uma casa ou uma rede
das que não prendem pássaros nem peixes,
das que têm malhas largas
para deixar passar o vento e a pressa
das ondas no corpo da areia.
Seria hipócrita se dissesse
que esta saudade não me vem à boca
com o sabor a fogo das coisas incumpridas.
Imagino-a distante e extinta, e contudo
cresce em mim como um distúrbio da paixão.
[José Jorge Letria]
"A Metade Iluminada e Outros Poemas"
domingo, agosto 30, 2009
quarta-feira, agosto 26, 2009
quinta-feira, agosto 13, 2009
sábado, agosto 08, 2009
quinta-feira, agosto 06, 2009
quarta-feira, agosto 05, 2009
A luz oblíqua
A luz oblíqua da tarde
Morre e arde
Nas vidraças.
Nas coisas nascem fundas taças
Para receber,
E ali eu vou beber.
A um canto cismo
Suspensa entre as horas e o abismo.
A vibração das coisas cresce.
Cada instante
No seu secreto murmurar é semelhante
A um jardim que verdeja e que floresce.
[Sophia Andresen]
Morre e arde
Nas vidraças.
Nas coisas nascem fundas taças
Para receber,
E ali eu vou beber.
A um canto cismo
Suspensa entre as horas e o abismo.
A vibração das coisas cresce.
Cada instante
No seu secreto murmurar é semelhante
A um jardim que verdeja e que floresce.
[Sophia Andresen]
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