sexta-feira, agosto 17, 2007

Cancro

E de súbito tudo se afastou – rostos, as árvores, o mar,
coisas, factos, a poesia, - longe, mais longe,
para uma margem oposta – via-os, não os via. Terão sido estas coisas
que partiram e o deixaram, ou foi ele? A morte
imóvel habitava-o até à ponta das unhas. À noite
ouvia sempre aquela enorme imobilidade dentro de si. Contudo,
antes de adormecer e depois de acordar, continuava
a lavar regularmente os dentes com a velha e despelada escovinha,
Mostrando, alvo, seguro, limpo, o seu ultimo sorriso.

[Giánnis Ritsos]

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