segunda-feira, junho 30, 2008
Eu
eu
quando olho nos olhos
sei quando uma pessoa
está por dentro
ou está por fora
quem está por fora
não segura
um olhar que demora
de dentro de meu centro
este poema me olha
Paulo Leminsk
quando olho nos olhos
sei quando uma pessoa
está por dentro
ou está por fora
quem está por fora
não segura
um olhar que demora
de dentro de meu centro
este poema me olha
Paulo Leminsk
Gota de Água
Eu, quando choro.
não choro eu.
Chora aquilo que nos homens
em todo tempo sofreu.
As lágrimas são as minhas
mas o choro não é meu.
António Gedeão
não choro eu.
Chora aquilo que nos homens
em todo tempo sofreu.
As lágrimas são as minhas
mas o choro não é meu.
António Gedeão
terça-feira, junho 24, 2008
BALANÇO
Que fica de quem passa? Um eco uma mágoa
ao ouvido da tarde? Uma pausa de palavras
na frase do instante? Uma interrupção de passos
a caminho da porta? Um sal de sentimento
no coração da amada? A vida esfarelada
numa dissipação de rumos? Ou um peso
de esquecimento da sombra da memória?
Mas quem passa não pensa no que fica,
se os passos o levam para onde espera
ficar; e se o seu destino é a passagem,
onde ficar é sair onde não chegou a
habitar, é o tempo que o obriga a não olhar
para onde há-de voltar, mesmo que aí
tenha deixado o que pensou consigo levar,
Náufrago sem ilha nem barco, ou
marinheiro preso ao porto, é ele o seu próprio
fim, como se a cada momento não soubesse
que não é dele o que leva, e só é dele o
que perde, como se o não quisesse guardar,
para que chegue mais depressa, ao cair da noite,
a esse cais onde ninguém o irá esperar.
E repete, então, o que não devia fazer, para tudo
fazer de novo, como se o tivesse de o fazer.
[Nuno Júdice]
ao ouvido da tarde? Uma pausa de palavras
na frase do instante? Uma interrupção de passos
a caminho da porta? Um sal de sentimento
no coração da amada? A vida esfarelada
numa dissipação de rumos? Ou um peso
de esquecimento da sombra da memória?
Mas quem passa não pensa no que fica,
se os passos o levam para onde espera
ficar; e se o seu destino é a passagem,
onde ficar é sair onde não chegou a
habitar, é o tempo que o obriga a não olhar
para onde há-de voltar, mesmo que aí
tenha deixado o que pensou consigo levar,
Náufrago sem ilha nem barco, ou
marinheiro preso ao porto, é ele o seu próprio
fim, como se a cada momento não soubesse
que não é dele o que leva, e só é dele o
que perde, como se o não quisesse guardar,
para que chegue mais depressa, ao cair da noite,
a esse cais onde ninguém o irá esperar.
E repete, então, o que não devia fazer, para tudo
fazer de novo, como se o tivesse de o fazer.
[Nuno Júdice]
segunda-feira, junho 23, 2008
domingo, junho 22, 2008
sábado, junho 21, 2008
sexta-feira, junho 20, 2008
quinta-feira, junho 19, 2008
Não há palavras
Tocas um corpo, sentes-lhe o repetido tremor
sob os teus dedos, o cálido andamento do sangue.
Observas-lhe o lânguido amolecimento,
as suas sombras corporais, o seu desvelado esplendor.
Não há palavras. Tocas um corpo; um mundo
enche agora as tuas mãos empurra o seu destino.
Estira-se o tempo nos pulmões
silva como um chicote rente aos lábios.
As horas, o instante, detêm-se,
extrais aí a tua pequena parcela de eternidade.
Antes foram os nomes e as datas.
a história tão clara e lúcida de dois rostos distantes.
Depois aquilo a que chamas amor,
talvez se transforme em promessa arrancada,
muro erguido que pretende encerrar
aquilo que só em liberdade pode ganhar-se.
Não importa, agora nada importa.
Tocas um corpo, nele te fundes,
apalpas a vida, real, comum. Já não estás só.
Juan Luis Panero
Antes que Chegue a Noite
sob os teus dedos, o cálido andamento do sangue.
Observas-lhe o lânguido amolecimento,
as suas sombras corporais, o seu desvelado esplendor.
Não há palavras. Tocas um corpo; um mundo
enche agora as tuas mãos empurra o seu destino.
Estira-se o tempo nos pulmões
silva como um chicote rente aos lábios.
As horas, o instante, detêm-se,
extrais aí a tua pequena parcela de eternidade.
Antes foram os nomes e as datas.
a história tão clara e lúcida de dois rostos distantes.
Depois aquilo a que chamas amor,
talvez se transforme em promessa arrancada,
muro erguido que pretende encerrar
aquilo que só em liberdade pode ganhar-se.
Não importa, agora nada importa.
Tocas um corpo, nele te fundes,
apalpas a vida, real, comum. Já não estás só.
Juan Luis Panero
Antes que Chegue a Noite
quarta-feira, junho 18, 2008
Este poema é absolutamente desnecessário
Este poema é absolutamente desnecessário
pela simples razão de que poderia nunca ser escrito
e ninguém sentiria a sua falta
Esta é a sua liberdade negativa a sua vacuidade dinâmica
e o movimento da sua abolição
a partir do seu vazio inicial
Mas qual é a sua matéria qual o seu horizonte?
Traçará ele uma linha em torno da sua nulidade
e fechar-se-á como uma concha de cabelos ou como um útero do nada?
Ou será a possibilidade extrema de uma presença inesperada
que surgiria quando chegasse a essa fronteira branca
que já não separaria o ser do nada e no seu esplendor absoluto
revelaria a integridade do ser antes de todas as imagens
a sua violência inaugural a sua volúvel gestação?
António Ramos Rosa
in Deambulações Oblíquas
pela simples razão de que poderia nunca ser escrito
e ninguém sentiria a sua falta
Esta é a sua liberdade negativa a sua vacuidade dinâmica
e o movimento da sua abolição
a partir do seu vazio inicial
Mas qual é a sua matéria qual o seu horizonte?
Traçará ele uma linha em torno da sua nulidade
e fechar-se-á como uma concha de cabelos ou como um útero do nada?
Ou será a possibilidade extrema de uma presença inesperada
que surgiria quando chegasse a essa fronteira branca
que já não separaria o ser do nada e no seu esplendor absoluto
revelaria a integridade do ser antes de todas as imagens
a sua violência inaugural a sua volúvel gestação?
António Ramos Rosa
in Deambulações Oblíquas
domingo, junho 15, 2008
sábado, junho 14, 2008
quinta-feira, junho 12, 2008
A Concha
Seu cálido olhar me embriaga
De sonhos inconfessáveis...
Quisera ser como a concha
Perdida à beira do mar,
Que se deixa sem rumo levar
Pelas ondas imperfeitas...
E mesmo depois de esquecida
Em longínqua praia deserta
Guardar saudosas lembranças
De sua voz dentro de mim,
Num murmúrio a confessar:
“Não há mistérios no amor,
Somente uma triste verdade:
Sua sina é a saudade...”
[Andra Valladares]
De sonhos inconfessáveis...
Quisera ser como a concha
Perdida à beira do mar,
Que se deixa sem rumo levar
Pelas ondas imperfeitas...
E mesmo depois de esquecida
Em longínqua praia deserta
Guardar saudosas lembranças
De sua voz dentro de mim,
Num murmúrio a confessar:
“Não há mistérios no amor,
Somente uma triste verdade:
Sua sina é a saudade...”
[Andra Valladares]
quarta-feira, junho 11, 2008
Poema de um homem qualquer
«0 espaço de infinito que medeia
Entre o homem e a ideia,
Entre o homem e o acto,
Entre o homem e o sonho»
(in Liberta em Pedra)
E assim tenho passado. Apenas entre.
Desconhecido o tempo que é de morte
E o Mistério que fui Eu no seu ventre.
Entre o Dia dos outros e o meu Dia
Se levanta a agonia
E canta como um galo, ainda Noite,
Anunciador do Mal. Vidente e estridente.
De mim, o sonho ausente.
Dos outros, o clarim que me asfixia.
Mas é na terra de outro Continente
Que o aviso dispara a linha fria.
E a minha Pátria vem, impaciente,
Mascarada de Grécias, de distâncias
Remotas como Vénus. Renuncia
Ao Presente. O Presente se adia. . .
E sempre fica entre.
Natércia Freire
Liberdade Solar
1978
Antologia Poética
Assírio & Alvim
Entre o homem e a ideia,
Entre o homem e o acto,
Entre o homem e o sonho»
(in Liberta em Pedra)
E assim tenho passado. Apenas entre.
Desconhecido o tempo que é de morte
E o Mistério que fui Eu no seu ventre.
Entre o Dia dos outros e o meu Dia
Se levanta a agonia
E canta como um galo, ainda Noite,
Anunciador do Mal. Vidente e estridente.
De mim, o sonho ausente.
Dos outros, o clarim que me asfixia.
Mas é na terra de outro Continente
Que o aviso dispara a linha fria.
E a minha Pátria vem, impaciente,
Mascarada de Grécias, de distâncias
Remotas como Vénus. Renuncia
Ao Presente. O Presente se adia. . .
E sempre fica entre.
Natércia Freire
Liberdade Solar
1978
Antologia Poética
Assírio & Alvim
domingo, junho 08, 2008
sábado, junho 07, 2008
sexta-feira, junho 06, 2008
Tão pouca é a vida
Tão pouca é a vida,
o deslumbrado delírio da vida.
No tear se tecem os fios, o desenho das rendas, a
renda dos dias.
Ignoro quantos,
quantas tardes no fluir da paixão, quanto ouro e
azul na idade das mãos,
que idade no tear das mães.
Foram belas também no sonho antigo,
passearam entre os lírios,
desatavam a cabeleira e os vestidos,
iam à beira mar.
[José Agostinho Baptista]
o deslumbrado delírio da vida.
No tear se tecem os fios, o desenho das rendas, a
renda dos dias.
Ignoro quantos,
quantas tardes no fluir da paixão, quanto ouro e
azul na idade das mãos,
que idade no tear das mães.
Foram belas também no sonho antigo,
passearam entre os lírios,
desatavam a cabeleira e os vestidos,
iam à beira mar.
[José Agostinho Baptista]
Escuro
Pergunto-me desde quando
deixou de haver futuro
nas janelas.
Janeiro dói nos olhos
como areia
e tu e eu estamos para sempre
sentados às escuras
no Verão.
[Rui Pires Cabral]
deixou de haver futuro
nas janelas.
Janeiro dói nos olhos
como areia
e tu e eu estamos para sempre
sentados às escuras
no Verão.
[Rui Pires Cabral]
quarta-feira, junho 04, 2008
Esperemos
Há outros dias que não têm chegado ainda,
que estão fazendo-se
como o pão ou as cadeiras ou o produto
das farmácias ou das oficinas
- há fábricas de dias que virão -
existem artesãos da alma
que levantam e pesam e preparam
certos dias amargos ou preciosos
que de repente chegam à porta
para premiar-nos
com uma laranja
ou assassinar-nos de imediato.
Pablo Neruda (Últimos Poemas)
que estão fazendo-se
como o pão ou as cadeiras ou o produto
das farmácias ou das oficinas
- há fábricas de dias que virão -
existem artesãos da alma
que levantam e pesam e preparam
certos dias amargos ou preciosos
que de repente chegam à porta
para premiar-nos
com uma laranja
ou assassinar-nos de imediato.
Pablo Neruda (Últimos Poemas)
domingo, junho 01, 2008
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