sábado, setembro 30, 2006
Praia
Na luz oscilam os múltiplos navios
Caminho ao longo dos oceanos frios
As ondas desenrolam os seus braços
E brancas tombam de bruços
A praia é lis e longa sob o vento
Saturada de espaços e maresia
E para trás fica o murmúrio
Das ondas enroladas como búzios.
Sophia de Mello Breyner
quinta-feira, setembro 28, 2006
Até à foz!
quarta-feira, setembro 27, 2006
OS DEGRAUS
Não desças os degraus do sonho
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos - onde
Os deuses, por trás das suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo...
Mario Quintana - Baú de Espantos
MARIONETA
Afinal não és o que pareces
Nem pareces o que és
És uma marioneta
Cheia de jeitos e guitas
Atitudes tão esquisitas
Inesperadas
Manobradas
E sei lá mais o quê
És a desilusão frustrante
Num bluff bem montado
Mis-en-scéne estonteante
Que engana e profana
O sentir de cada um.
E é ver-te a contorcer
Num tentar desesperado
De querer parecer o não ser
Num parecer tão enganado...
Maria do Céu Castelo-Branco (2001)
In Exílio(s) com África no fundo do olhar. Coimbra: Pé de Página Editores
terça-feira, setembro 26, 2006
(C)almas da noite
segunda-feira, setembro 25, 2006
DO AMOROSO ESQUECIMENTO
domingo, setembro 24, 2006
sábado, setembro 23, 2006
Noite de Abril
Hoje, noite de Abril, sem lua,
A minha rua
É outra rua.
Talvez por ser mais que nenhuma escura
E bailar o vento leste
A noite de hoje veste
As coisas conhecidas de aventura.
Uma rua nova destruiu a rua do costume.
Como se sempre nela houvesse este perfume
De vento leste e Primavera,
A sombra dos muros espera
Alguém que ela conhece.
E às vezes, o silêncio estremece
Como se fosse a hora de passar alguém
Que só hoje não vem.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Obra Poética I
Caminho
sexta-feira, setembro 22, 2006
quinta-feira, setembro 21, 2006
...o sopro do avançar das horas
«Em dominó batem-se as portas e vão-se apagando as luzes pelos cubos encastoados nos edifícios.
O cântico ininterrupto da cigarra desperta-me, fez do parapeito da janela que me une e aparta de mim e das coisas, a estante da sua partitura, mitigando os sons do ambiente envolvente, silenciados como que em respeito pelo cantar do seu fado.
Algumas luzes, no entanto, permanecem levando-me a adivinhar e a imaginar quem iluminam e o porquê de ainda resistirem ao sopro do avançar das horas.
Ocorre-me a imagem de umas dezenas de homens ou mulheres, de t-shirt desbotada de dois números acima, de cuecas de elástico carcomido, inclinados às janelas, a tocar o céu e a decifrar o mesmo enigma. Uma lasca de seriedade fere o balão de pensamento e preencho cada cubo aceso ou apagado com vivências.»
Ocorre-me a imagem de umas dezenas de homens ou mulheres, de t-shirt desbotada de dois números acima, de cuecas de elástico carcomido, inclinados às janelas, a tocar o céu e a decifrar o mesmo enigma. Uma lasca de seriedade fere o balão de pensamento e preencho cada cubo aceso ou apagado com vivências.»
Não Basta
Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há idéias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.
Alberto Caeiro - Poemas Inconjuntos
Exaurir do movimento...
«O ladrar guardião ingere-se nos fragores das viaturas apressadas, ávidas pelo seu destino. Deixam o rasto do findar de mais um dia...
Assisto ao exaurir da vida, do movimento, nas estradas e nos parques de estacionamento, à excepção dos reservados tacitamente aos residentes, nas proximidades das construções de lego erigidas por crianças tornadas adultas.»
(Imagem retirada da web)
Momentos...
Não sei que mistério
prende meu coração ao dia de hoje.
Tanto, que me parece
que estou ausente da vida
e apenas real nesta paisagem.
(Albano Martins, Poesia - 1950/1985)
É talvez…
quarta-feira, setembro 20, 2006
Bóias de luz
Ah... essas palavras banais
Dos boleros sensuaisSão verdades diárias
São dores tão normais
Ah... esses rostos comuns de tanta gente
São como bóias de luz apagadas temporariamente
O meu olhar desconhece a paisagem
E só procura saber
O que não mostram as vitrines
Um sorriso de mulher
Um pedido de cigarro
Um telefone enguiçado
Emudecendo um recado de amor
Uma sanfona modesta chora escondida
Pelos tapumes febris das construções
E assim de retalho em retalho
Se tece a dor dos boleros
E das ruas da cidade
(Sueli Costa e Abel Silva)
Antes
Entra janeiro
No meu calendário
Com as mesmas máscaras
De fevereiro
Sinto que março vai passar ligeiro
Que a morte espera
Em cada aniversário
Maio eu não sei
Mas é em geral contrário
Junho é o mês mais triste
Do ano inteiro
Que ainda leva julho ao desespero
E faz agosto todo funerário
Setembro sempre
Me encontrou solteiro
Depois outubro amor involuntário
E o tédio triste
De um novembro ordeiro
Mas vem dezembro
E eu fecho o meu diário
E quando eu penso
Que acabou o roteiro
Entra janeiro no meu calendário
Com as mesmas máscaras
De fevereiro
(Sérgio Santos e Paulo César Pinheiro)
Voz: Alda RezendeViolão: Sérgio SantosTamborim e surdo: Décio RamosPandeiro, djembê e repinique: Serginho Silva
No meu calendário
Com as mesmas máscaras
De fevereiro
Sinto que março vai passar ligeiro
Que a morte espera
Em cada aniversário
Maio eu não sei
Mas é em geral contrário
Junho é o mês mais triste
Do ano inteiro
Que ainda leva julho ao desespero
E faz agosto todo funerário
Setembro sempre
Me encontrou solteiro
Depois outubro amor involuntário
E o tédio triste
De um novembro ordeiro
Mas vem dezembro
E eu fecho o meu diário
E quando eu penso
Que acabou o roteiro
Entra janeiro no meu calendário
Com as mesmas máscaras
De fevereiro
(Sérgio Santos e Paulo César Pinheiro)
Voz: Alda RezendeViolão: Sérgio SantosTamborim e surdo: Décio RamosPandeiro, djembê e repinique: Serginho Silva
terça-feira, setembro 19, 2006
Nostálgico
Tornas às festas passadas
Com o jeito de quem velou
E pretendeu à risca uma prece difícil.
O perigo te apaixona tanto
Que num ímpeto frio por mudanças
Tu te fazes rebelde querendo outras vidas.
E para quê...
Logo voltas a tuas saudades antigas,
A teu largo acervo de ossos.
Porque és o teu regresso,
Nas tuas buscas iludidas
E no teu desamor.
MARIANA IANELLI
(Poema do livro Trajetória de Antes; ed.Iluminuras - 1999)
segunda-feira, setembro 18, 2006
Exílio
Tempos
Acordo de noite subitamente.
E o meu relógio ocupa a noite toda.
Não sinto a Natureza lá fora,
O meu quarto é uma coisa escura com paredes vagamente brancas.
Lá fora há um sossego como se nada existisse.
Só o relógio prossegue o seu ruído.
E esta pequena coisa de engrenagens que está em cima da minha mesa
Abafa toda a existência da terra e do céu...
Quase que me perco a pensar o que isto significa,
Mas estaco, e sinto-me sorrir na noite com os cantos da boca,
Porque a única coisa que o meu relógio simboliza ou significa
É a curiosa sensação de encher a noite enorme
Com a sua pequenez...
Fernando Pessoa
sexta-feira, setembro 15, 2006
Rabisco no papel
Rabisco no papel
a procura subtil da harmonia
Mas a harmonia é tão vaga
E efémera
Que se esfuma...
E os rabiscos
Não passam de simples
Rabiscos...
Resta sómente a caneta
Titubeante
Indecisa
E o Eu
O somático
O Eu
Que belisco e torturo
Na esperança
de ultrapassar este vazio...
A dor física
Desvia por instantes
A desordem do meu Ser
E assim estou eu
Duvidando de mim
Se existo na essência
Ou na matéria
Ou momentaneamente
(talvez...)
Na harmonia
Maria do Céu Castelo-Branco (2001)
In Exílio(s) com África no fundo do olhar. Coimbra: Pé de Página Editores
Cartas
Querida existência,
Não sabia quando fazer uma paragem e também nunca dei conta que pudesse...
O tempo corre de maneira muito misteriosa e depressa.
Num instante já és outra vivência, nasces e pereces a cada momento, todavia sobrevivo à tua duração e converto-me em tua memória, testemunha das surpresas e dos enigmas, cúmplice do esquecimento e escrava da verdade.
Agora percebo que ninguém pode escapar-se de ti.
Apenas podemos fantasiar que não há viagens só de ida, que os lugares onde nascemos nos pertencem, que as recordação nos fazem viver, que o mar é azul em todos os continentes, que as estrelas são parte do mesmo firmamento. Que o Universo é único.
Sei o quero, sei para onde vou e os meios que tenho para lá chegar. Mas, por favor, percorre tu alguns quilómetros... e deixa-me parar, um instante que seja.
Sempre perguntei como divides destino e sorte, como teces essa rede de amor e abandono, como a vida treme perante a morte, e como tudo volta ao princípio.
Enumerar cada coisa que te roubei, mais as que me entregaste por direito, é uma equação infinita, é mais que uma dúvida, é mais que uma vida. É uma oportunidade escondida dentro de si mesma, como um espelho, de um lado estamos e do outro somos imagem reflectida, invertida, repetida e única.
Tenho ainda tanto que agradecer-te...
A vez que me deixaste fazer o meu próprio conto e começou a minha vida...
A vez que o meu olhar ultrapassou o que não entendia e aprendi a sonhar.
E quando o corpo, já com algum domínio, me proporcionou saltos maiores com as consequentes dimensões de risco. Com o medo na garganta mas o desejo no coração, assim venci os desafios, assim saboreei os momentos...
De criança sem ditadura a uma adulta escrava de ataduras.
De inocente curiosa a senhora de razões justas.
De menina sonhadora a mulher com incredulidade reservada.
É irónico, porque antes era a filha e hoje sou a mãe...
Será que os papéis no teatro da vida nos são passados ou atribuídos por mérito?
Será que quando perdemos a vontade, a vida nos põe ocupados novamente?Será que mesmo quando desejamos definir tudo à nossa medida, as coisas são como têm que ser e o valor que lhes atribuímos é simples inventário?
Será que a maneira como nos ensinam a fazer as coisas são apenas princípios básicos e os segredos são reservados para que os possamos desvendar?
Quanta magia e sedução... o vento tem música... e silêncio o pensamento...
O sorriso é doce... e amargos os prantos...
Tem esperança a espera... e prémios as promessas...
Tem nome e verbo, o amor... tem tudo, nada lhe falta...
Somos nós que nos privamos de ver, de crer, de sentir e de absorver o que há em ti.
Se algo não tive foi porque não pedi ou não soube onde procurar...
Se recusei alguma vez o que me tocou viver foi por comodidade não por cobardia...
E se alguma vez me esqueci do quanto vales... esse dia perdido, conta também.
Nada te posso pedir porque me deste tudo, portanto, daqui para a frente continuarei a abrir os teus presentes...
Mas não me esqueço de te agradecer por me deixares ser quem sou.
Dou-te graças pelo espaço que me deixas... e se alguma vez se acabar o teu tempo, abraçar-te-ei nos meus sonhos eternos...
Adoro-te,
iMorgado
GUARDA UM PEDAÇO DE TI
Guarda um pedaço de ti, meu amor,
para o trazer comigo,
quando a distância se aloje entre nós...
Guarda-o, pra encher a minha solidão,
para iluminar os meus dias,
sonhar agarrado a mim,
quando as trevas da noite
embalem a minha saudade
e se deitar comigo,
amando-me de madrugada...
Dá-me um pedaço teu, cheio da tua voz
que me sussurre te quiero quando acorde pla manhã...
Concede-me apenas um pedaço, que será teu outra vez,
quando os nossos corpos se fundirem de novo,
quando o oceano se reduza ao suor do nosso desejo,
quando a saliva das nossas bocas sejam ondas de paixão,
quando a tempestade vire remanso
e a Lua adormeça por entre as trepadeiras do terraço.
Guarda esse pedaço, meu amor, guarda esse pedaço...
iMorgado
QUERO-TE
Quero-te
exactamente
como tu me queres
com mais suavidade
com menos pressa
Com paixão
desenfreada
desejo desmedido
acumulado
sufocado
sem tréguas
Fui riacho
já sou rio
de caudal pleno
de corpo cheio
em fúria
rasgado
perdido
sem foz
sem repouso
Quero-te
no corpo
na alma
nos gestos
nos sentidos
tatuado em mim
Quero-te
nos meus sonhos
pensamentos
delírios
em silêncio
Quero
esvaziar meu corpo
da solidão
lágrimas
e dor
de não te TER...
iMorgado
OJOS CERRADOS
Si beso con los ojos cerrados,
los fijo en tí, cuando te amo.
Con el cuchillo de mis yemas,
desabrocho la manzana
que me ofreces, encarnada;
y abrigo tu piel descalza,
con las hojas de mis palmas.
Leyendo el camino en tus ojos,
encuentro oasis, de la nada;
siendo mi lengua de agua,
la que surca olas bravas.
Como presente que extraña,
provocar tu venus grana,
culmino la cima del cielo,
deslizando un collar de perlas,
por el cuello de tu entraña.
Si beso con los ojos cerrados
los fijo en tí, cuando te amo.
Espock.-
Pecados de mim
Nos olhos tenho a alma
por vezes apenas calma
no peito um arfar suave
como o voo de uma ave
Em casa fumo um charro
feito com ervas doces
e papiro escrito
Na rua vagueio de carro
ao som de Emma Shaplin
Una lluvia que no cesa
Un suspiro que perdí
Si tu cuerpo no me quiere
Yo no quiero mas de ti
A noite aquieta-me
chega fria e sem estrelas
ensombrando a cidade
limpando os odores a saudade
As palavras são vazias
repletas de fome
sedentas de abrigo
Misturo-as com a música
e a imaginação
Pego num bocado
e provo
como se te provasse a ti
e delicio-me
com tanto pecado
iMorgado
QUIERO
Quiero mojar mis manos
con tus líquidos de alma
ser cristal de sal
en el mar de placer
que nada entre tus lágrimas.
Quiero embriagar la pasión
de los calientes aromas
que destilo en tus labios.
quiero mojarme de ti
como fluido de amor.
Quiero vibrar en tus entrañas
y ser la contracción que recorra
los conductos de tu vientre
- rocío de tu flor al alba -
Quiero escribirte un poema
con pluma de tinta blanca.
Espock
quinta-feira, setembro 14, 2006
Sê como és...
Sê como és: o sol é bom, o ar vivaz.
Do azul aos azuis, do verde aos verdes,
a terra é menina e o tempo rapaz.
Também tu és menina
(um bichinho rebelde, de tão natural!)
e correr descalça era mesmo o que querias,
mas seria indecente nesta capital...
E enquanto, doutro verde possuído,
em versos me explico, bem ou mal,
à Primavera corres, já descalça,
por uma relva ideal!
Alexandre O' Neill - Poesias Completas
Do azul aos azuis, do verde aos verdes,
a terra é menina e o tempo rapaz.
Também tu és menina
(um bichinho rebelde, de tão natural!)
e correr descalça era mesmo o que querias,
mas seria indecente nesta capital...
E enquanto, doutro verde possuído,
em versos me explico, bem ou mal,
à Primavera corres, já descalça,
por uma relva ideal!
Alexandre O' Neill - Poesias Completas
QUANDO MORRER...
Apetite do vazio
Sinto saudades
Dos tempos de criança...
Não criança pela idade
Mas por toda a minha esperança
Mente sã em corpo são
Naturalidade de ser
Em que tudo era espontâneo
Liberto do mis-en-scéne
Hoje grades do quotidiano
E o vazio que me fica
Transparece no olhar
Numa tristeza infinita
De já não ver gente ser gente
Mas gente comendo gente
Num gesto de mastigar
O apetite do vazio
Que fica por saciar...
Maria do Céu Castelo-Branco (2001) In Exílio(s) com África
no fundo do olhar. Coimbra: Pé de Página Editores.
Por entre (In) termináveis ausências
Fundiram-se nossos corpos
De sons e movimento(s)
Sem palavras
Só acordes
Nessa coisa inevitável
Que é a vida
Guardo-te
Pelo sorriso amável e constante
Pela graça das graças
Porque rimos
Pelas palavras que (não) dissemos…
E pelos desejos que por desejar ficaram...
Guardo-te
Pelo olhar tranquilo que por mim adentro flúi
Pelo pulsar que ainda sinto e me percorre
Pela ternura que lentamente me inebria
E porque sedenta continuo
Queria abraçar-te
E amar-te lentamente
E dizer-te porque gosto de ti…
Que não estás só…
Porque mesmo quando o mundo desaba
E a tristeza o olhar tolda
E o medo se entranha e nos sufoca
(e se sei… quando tudo escurece e o corpo esgota)
Se recomeça do vazio…
Que se ilumina passo a passo
Verso a verso
Devagar
Devagarinho…
mas andando…
Prostrada no caminho por onde passas (quase) sem me ver...
… iria ao rio e despojar-me-ia de roupagens e disfarces
E dir-te-ia:
- Descobre-me
Porque ainda espero...
Maria do Céu Castelo-Branco (2003)
Pausa para um café
POEMA MESTIÇO
Meu amor da Rua Onze
Tantas juras nos trocamos,
Tantas promessas fizemos,
Tantos beijos roubamos,
Tantos abraços nos demos.
Meu amor da Rua Onze,
Meu amor da Rua Onze,
Já não quero
Mais mentir.
Meu amor da Rua Onze,
Meu amor da Rua Onze,
Já não quero
Mais fingir.
Era tão grande e tão belo
Nosso romance de amor
Que ainda sinto o calor
Das juras que nos trocamos.
Era tão bela, tão doce
Nossa maneira de amar
Que ainda pairam no ar
As promessas que fizemos.
Nossa maneira de amar
era tão doida, tão louca
Qu'inda me queimam a boca
Os beijos que nos roubamos.
Tanta loucura e doidice
Tinha o nosso amor desfeito
Que ainda sinto no peito
Os abraços que nos demos.
E agora
Tudo acabou.
Terminou
Nosso romance.
Quando te vejo passar
Com o teu andar
Senhoril,
Sinto nascer
E crescer
Uma saudade infinita
Do teu corpo gentil
De escultura
Cor de bronze,
Meu amor da Rua Onze.
Aires de Almeida Santos, Benguela
Não partas já
Não tenhas medo do amor.
Pousa a tua mão devagar
sobre o peito da terra
e sente respirar
no seu seio os nomes das coisas
que ali estão a crescer:
o linho e genciana;
as ervilhas-de-cheiro
e as campainhas azuis;
a menta perfumada
para as infusões do verão
e a teia de raízes de um pequeno loureiro
que se organiza como uma rede
de veias na confusão de um corpo.
A vida nunca foi só Inverno,
nunca foi só bruma e desamparo.
Se bem que chova ainda,
não te importes:
pousa a tua mão devagar
sobre o teu peito
e ouve o clamor da tempestade
que faz ruir os muros:
explode no teu coração um amor-perfeito,
será doce o seu pólen
na corola de um beijo,
não tenhas medo,
hão-de pedir-to
quando chegar a primavera.
Mª. do Rosário Pedreira
Pousa a tua mão devagar
sobre o peito da terra
e sente respirar
no seu seio os nomes das coisas
que ali estão a crescer:
o linho e genciana;
as ervilhas-de-cheiro
e as campainhas azuis;
a menta perfumada
para as infusões do verão
e a teia de raízes de um pequeno loureiro
que se organiza como uma rede
de veias na confusão de um corpo.
A vida nunca foi só Inverno,
nunca foi só bruma e desamparo.
Se bem que chova ainda,
não te importes:
pousa a tua mão devagar
sobre o teu peito
e ouve o clamor da tempestade
que faz ruir os muros:
explode no teu coração um amor-perfeito,
será doce o seu pólen
na corola de um beijo,
não tenhas medo,
hão-de pedir-to
quando chegar a primavera.
Mª. do Rosário Pedreira
RUGAS
Rugas,
trilhos do tempo
que sulcam nosso rosto
delineando
tarefas cumpridas
marcando
caminhos percorridos
esculpindo
risos alargados
tatuando
a saudade e quem nos faz falta
o vazio deixado por quem partiu
traços
que nos transformaram
lentamente...
Gosto de mim
assim desenhada...
Fui riacho,
encorpei...
Sou rio,
fui amada
e dupliquei...
Num dia de Cacimbo,
ao mar vou chegar
pintado com o vermelho da minha terra
e com a prata do Luar.
Serenamente,
sem pressa...
no remanso das ondas,
desaguarei...
iMorgado
http://radio.terra.com.br/includes/internas_albuns/1/1940.html
Lição de Casa
NA TERRA ONDE NASCI
Na terra onde nasci
O mar e o céu
Entrelaçavam-se
Na essência do meu ser
Na terra onde nasci
Vagueava na imensidão
Acalentada e perdida
No infindo deserto
Por entre longas welwitshias
Na terra onde nasci,
Embrenhava-me
Nas brumas do sensível
E sentia
Perturbante e livre
O viver realizado
Com o odor e a brisa p’la manhã
Sem bloqueios
... Impotências...
Na terra onde nasci
Permanecem profundas raízes
Não se vêem
Mas são eternamente
As minhas raízes...
Maria do Céu Castelo-Branco (2001) In Exílio(s) com África no fundo do olhar. Coimbra: Pé de Página Editores.
quarta-feira, setembro 13, 2006
CATEDRAL
O deserto
Que atravessei
Ninguém me viu passar
Estranha e só
Nem pude ver
Que o tempo é maior
Tentei dizer
Mas vi você
Tão longe de chegar
Mais perto de algum lugar
É deserto
Onde eu te encontrei
Você me viu passar
Correndo só
Nem pude ver
Que o tempo é maior
Olhei pra mim
Me vi assim
Tão perto de chegar
Onde você não está
No silêncio uma catedral
Um templo em mim
Onde eu possa ser imortal
Mas vai existir
Eu sei vai ter que existir
Vai existir nosso lugar
Solidão
Quem pode evitar?
Te encontro em fim
Meu coração
É secular
Sonha desaba dentro de mim amanhã
Devagar
Me diz como voltar
Se eu disser
Que foi por amor
Não vou mentir pra mim
Se eu disser -"deixa pra depois"
Não foi sempre assim
Tentei dizer
Mas vi você
Tão longe de chegar
Mais perto de algum lugar
Zélia Duncan
http://radio.terra.com.br/busca/musicas.php?musica=Catedral
Que atravessei
Ninguém me viu passar
Estranha e só
Nem pude ver
Que o tempo é maior
Tentei dizer
Mas vi você
Tão longe de chegar
Mais perto de algum lugar
É deserto
Onde eu te encontrei
Você me viu passar
Correndo só
Nem pude ver
Que o tempo é maior
Olhei pra mim
Me vi assim
Tão perto de chegar
Onde você não está
No silêncio uma catedral
Um templo em mim
Onde eu possa ser imortal
Mas vai existir
Eu sei vai ter que existir
Vai existir nosso lugar
Solidão
Quem pode evitar?
Te encontro em fim
Meu coração
É secular
Sonha desaba dentro de mim amanhã
Devagar
Me diz como voltar
Se eu disser
Que foi por amor
Não vou mentir pra mim
Se eu disser -"deixa pra depois"
Não foi sempre assim
Tentei dizer
Mas vi você
Tão longe de chegar
Mais perto de algum lugar
Zélia Duncan
http://radio.terra.com.br/busca/musicas.php?musica=Catedral
Colcha de Retalhos
terça-feira, setembro 12, 2006
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